Ho Ho Ho!!! Aproveito a época natalícia para fazer mais um ponto de situação, este mais revelador que os anteriores. Segue-se o índice da história do Cisne Negro. A negrito estão os capítulos que faltam escrever.
Preludium Obscurus Cycnus Inter Profanus et Sacratus
Capítulo I O Dia chegou (aos 8 meses) Capítulo II A Dor da Despedida Prematura Capítulo III Viginti Tres (aos 2 anos) Capítulo IV Delirium Capítulo V As Raízes da Promessa (aos 5 anos) Capítulo VI Os Seis Desaparecidos Capítulo VII Inadiável Encontro Capítulo VIII Cabassus Embarassus Capítulo IX A Princesa de Margrietus Capítulo X Nascimento Capítulo XI Lacrimarum (aos 8 anos) Capítulo XII Pirâmide de Cartas Capítulo XIII O Amante da Natureza (aos 9 anos) Capítulo XIV A Máscara (aos 12 anos) Capítulo XV Albus Cycnus Capítulo XVI Ad Extremum (aos 13 anos) Capítulo XVII A Fuga (aos 15 anos) Capítulo XVIII A Priori Capítulo XIX Aquarium (aos 16 anos) Capítulo XX A Posteriori Capítulo XXI Incommodus Distantia(aos 17 anos) Capítulo XXII Intimus Dualitas Capítulo XXIII O Guerreiro Invencível
Neste momento estou a escrever o capítulo 23 que envolve a morte de uma personagem. Por falar em personagens, aqui vai a lista das 23 personagens:
As Personagens
Rinkinen (Reino do Norte de Atlântida) Cisne Negro, Caliel, Marjah, Har-Meand, Barvaatus, Rinna, Equam, Emppu, Thrishia
Margrietus (Reino do Sul de Atlântida)
Mirthis, Tireu, Litharn, Heidei, Nurmi, Rhanos
Povo do Cristal: Mar-Hir, Lazarus, Asrae, Adelius, Cassius
Sereias Candraara, Viderya, Dahlia
O presente de Natal vai para quem acertar no nome da personagem que desaparece no último capítulo. So who will be killed?
30 Seconds to Mars – The Kill
Merry Christmas to all and best wishes for 2008 Peace out
Only to the Black Swan: não contava ver-te de novo por isso deves imaginar a asfixia do meu coração quando me apareceste à frente aos pulinhos. Voltei a acreditar no Pai Natal. Anda de mota e atira rebuçados a pulguinhas como tu. Tenho que agradecer ao barbudo pelo presente. Só te posso desejar o melhor…
Regresso após meses de ausênci que Caliel é a personagem maia. A minha passagem é breve. Vou apenas fazer o ponto de situação referente à história do Cisne Negro. Foi quase há um ano que embarquei nesta aventura inspirado por sensações positivas e encorajadoras. Muito aconteceu entretanto. Difícil dizer onde me encontro agora. A meio da história e não sei se conseguirei terminá-la. Tem sido complicado controlar a ansiedade. E existem muitas ideias para um segundo volume chamado O Cisne Branco. Vou deixar excertos do capítulo À Priori, capítulo nº 18 dos 23 previstos. São apenas rascunhos que tenho escrito no trabalho durante as horas de almoço e jantar. As personagens centrais deste capítulo são Caliel e Rhanos. O Cisne Negro, que não aparece, já tem 16 anos, Caliel 17 e Rhanos 18. E, para terminar, digo sem qualquer hesitaçãos cativante de todas as que criei nesta e noutras histórias que escrevi. Um dia se alguma vez o livro for editado irão perceber porque digo isto. E agora existe uma motivação extra para continuar nesta aventura. E um novo dilema. Este post é dedicado a alguém que me devolveu o sorriso.
"O tempo parecia não ter passado para Caliel. Mantinha intacta a sua aparência angelical de criança fragilmente tímida embora já contasse com dezassete anos. Igualmente incólume permanecia o seu comportamento intimista para com a natureza. Continuava a subir árvores e a empoleirar-se nos seus ramos como sempre fizera. E não deixara de falar com as árvores, plantas e animais no seu jeito extraordinariamente passional. E que melhor gesto afectivo poderia demonstrar para um cavalo selvagem que encontrava numa clareira de uma mata, senão correr a seu lado sem ter o desejo de o montar? Apenas quis acalmá-lo pois o cavalo de pelagem pardo-avermelhada e com uma faixa escura ao longo do dorso estava mais exaltado do que qualquer outro corcel que o Rinkinen tivesse observado anteriormente. Caliel teve que colocar-se à sua frente sem recear ser atropelado pela histeria aflitiva que se apoderava a alma do animal, até então indomável. - Shh. Está tudo bem. Não tenhas medo. Olhou na direcção de onde os seus trémulos cascos tinham surgido. Avistara no horizonte um local que por alguma razão desconhecida evitava aproximar-se. Um indistinto vento soprava rigidamente nas suas costas, adejando freneticamente os seus cabelos encaracolados. O cavalo relinchou com medo de ser empurrado para o interior daquela floresta repleta de abetos gigantes. Caliel conseguia sentir o que o cavalo sentia. Não era a frondosa vegetação que o intimidava, era sim o tremendo rumor das folhas agitadas pelo vento. Era o vento terrífico que assustara o cavalo que nunca havia trilhado aquele território inóspito. O vento ali tinha uma voz tão audível que poderia ser escutado a quilómetros de distância. - Encontrarás um apetitoso campo de feno se seguires para lá do despenhadeiro arborizado. Vai e não voltes aqui. Noutra ocasião Caliel teria acompanhado o cavalo até ao local que indicara. Contudo, achava que estava na altura de ouvir aquele vento arrepiante de mais perto. Já o cavalo se tinha afastado a trote contra o vento quando o Rinkinen deu por si a penetrar na densa floresta revelando um estado de espírito absolutamente despreocupado. Não tinha nada que temer. ... Até culminar num divergente bosque repleto de lianas e fetos. Embrenhou-se atrevidamente sem ser necessário ser levado pelo incansável vento... ... Para além do vento, o sentido apurado de Caliel escutou um espezinhar e estalar de folhas e ramos denunciando a presença de animais. Achou que poderia identificá-los mesmo sem os avistar. Mais cavalos galopavam naquelas paragens pouco convidativas. Foi ao encontro do ruído e ao desviar a vegetação surpreendeu-se. O vento tinha trazido um grupo de seus compatriotas que corriam tão ou mais assustados que o cavalo que encontrara...
... Encontram Caliel paralisado como se fosse uma das árvores enraizadas.
- Viste alguém ou algum animal? Alguma coisa fora do vulgar? - Não vi nada. Apenas oiço o vento falar. - Então nenhum de nós está a delirar. Também ouvimos. – disse Rhanos.
...O solo estremece os ramos das árvores agitam-se violentamente. - Estão a ouvir? Existe uma força a perturbar a natureza. – diz Caliel A densa floresta remexia-se aparatosamente. Um fenómeno inexplicável tal como o vento que rugia ferozmente.
- É o vento que faz estes rugidos?
- São as árvores. – disse alguém aterrorizado - Não é o vento que fala nem as árvores. São eles!
... Espadas são desembainhadas, lanças são erguidas quando os Filisteus se aproximam. As folhas estalavam debaixo dos pés - Não. Escondam-se rápido!
- Não vou esconder-me como um cobarde!
- Não sejas tolo Equam, não tens qualquer hipótese.
... Mais à frente encontram um grupo de mulheres jovens a banharem-se no rio. Algumas exibiam o seu corpo nu sem qualquer pudor. Sereias. Mas havia qualquer coisa que atraía os homens Seriam ondinas? Ninfas de água? Não, eram sereias de olhos grandes brilhantes quase incandescentes.
eram mulheres que e movimentavam nas águas como serpentes tinham uma cauda, uma barbatana de escamas verdes como os peixes. Saiam das águas e a barbatana escamada dava lugar a duas pernas perfeitas. Não tinham qualquer vergonha nem se sentiam minimamente intimidadas por estarem a ser observadas. Aceitavam o seu corpo tal como era. A transformação não era nenhum segredo que quisessem manter debaixo de água.
... Chegava Candraara, a Rainha das Sereias, num barco conchiforme puxado por cavalos-marinhos.
... O dialecto melodioso das sereias hipnotizam os homens. Rhanos e Caliel são os únicos que não caem em tentação. Rhanos pede a Caliel para amarrá-lo já que não pode amarrar-se a si próprio.
Rhanos ficou tentado em aceitar a mão de uma das sereias. As bocas espumavam de desejo.
O rio de um azul metálico transforma-se num tom mais alaranjado. Tornou-se em ácido. Bolhas inflamáveis rebentavam
Rhanos provou os lábios de uma sereia. Sabiam-lhe a vinagre. Asqueroso. Sentiu-se como se tivesse traído o Cisne Negro e nada lhe pareceu tão ruim. Tornara-se numa vítima da tentação. Uma tentação que, era capaz de jurar a pés juntos, lhe fora impingida, ou seja, não partiu de si.
Uma sereia fora cativada pelo jeito caracteristicamente acanhado de Caliel. - Olá. Chamo-me Viderya. Tenho muito gosto em conhecer-te. Vejo que vêm de longe. Devem estar cansado. Andem, podem relaxar na cabana das massagens ao mesmo tempo que saciam a fome... Não falas? Porque estás tão tenso? – a sereia soprou-lhe ao ouvido palavras venenosas que contrariavam o seu impulso em fugir daquele local de desenfreada libertinagem. O que o Cisne Negro iria pensar se soubesse?
... Candraara rainha entre as sereias, a mais alta com longuíssimos cabelos negros com madeixas roxas. Tinha uma aparência que se destacava das demais... As sereias entregavam o seu corpo ao grupo de rinkinens e margrietus, não se importavam com a sua origem. - Oh sois todos tão jovens - E tão belos! Rhanos deu um passo atrás e depois mais outro. por seu lado, Caliel resistia facilmente aos encantos da mais bela das criaturas marinhas. E como as sereias detestavam ser desprezadas, tinham que aplicar todos os meios mais perversos O que foi? Não gostas de mulheres? Tens aqui três à tua inteira disposição - Não! Pára! Não posso! Se me beijares, irás beijar o chão ou aquela pedra ali Olhou pelo canto do olho vendo os seus companheiros a serem facilmente levados pelos desejos de carne. Precisava resistir às investidas da sereia a todo o custo. Por seu turno, Caliel continuava no mesmo local, nem recuava nem avançava. - És um autêntico mistério, sabias? – dizia a sereia analisando a aura do Rinkinen - Trazes contigo um grande perigo. Não te excita ser quem és? - Quem sou? – retrucou numa voz atabalhoada - Não sabes quem és? – questionou-se surpreendida. – Os teus pais não te disseram? Caliel não iria cair na artimanha da sereia que tentava quebrar o seu espírito protegido contra feitiços daqueles. Para Caliel tudo o que a sereia queria era semear a dúvida para torná-lo mais vulnerável pois não poderia tê-lo doutro modo. Poderia falar o que quisesses que não iria ceder aos caprichos pecaminosos da rainha das sereias. - Duvidas do que te digo. Pois bem, porque não perguntas aos teus pais, sem rodeios, perguntas-lhe quem realmente és. - Anda posso contar-te tudo o que quiseres saber, sobre o teu povo e sobre como elas podem aparecer…! A sereia abriu-lhe os braços. Caliel continuava sisudo, visivelmente confuso mas com uma única certeza. Não iria abraçar uma criatura da natureza capaz de instigar, confundir e manipular os homens a seu bel-prazer. Olhou de soslaio para Rhanos que tentava subir uma árvore ao ver-se encurralado. - Foge! Não te deixes levar pelas suas palavras venenosas! Foge! Não fiques aí especado! A Sereia Candraara avançava para beijar Caliel. - Mas e tu…? - Não te preocupes comigo, salva-te! Duas sereias que entretanto já se tinham livrado dos seus homens ladearam a rainha para capturar o indomável Caliel.
... Caliel foge mas é prontamente perseguido. Ao longo da margem do rio. Um assobio de Candraara chamou inesperadamente uma matilha de hienas ameaçadoras que o perseguiram já que as sereias não conseguiriam acompanhar a correria do Rinkinen.
Lamento informar-vos que deixarei de postar a continuação da história do Cisne Negro. É pelos melhores motivos. Tenciono empenhar-me a fundo para conseguir atingir tudo aquilo que idealizei para a criação de um mundo pormenorizado, Atlântida vista por Luigi. Deixo-vos algumas ideias. Haverá expressões norueguesas e finlandesas que representam a linguagem dos dois reinos, Margrietus e Rinkinen, Haverão locais detalhados. Já comecei a tratar disso. Haverá um triângulo amoroso. Haverá uma espécie de relação lésbica. Possivelmente algumas cenas tórridas. Haverá uma personagem incorpórea chamada Ausência. Aparecerá um Cisne Branco. Haverá uma inevitável guerra entre os dois reinos. Amores e traições entre personagens dos dois reinos. Haverá muita confusão. Haverá um guerreiro imbatível, haverão fundamentalistas religiosos e outros descrentes, haverá magia, segredos por descobrir, haverá morte, aparecerão alguns seres mitológicos desde sereias, hidras, minotauros, filisteus, hipocampos, haverá muito mais. Muitos aspectos estão esquematizados, incluindo o final que creio ser surpreendente. A motivação tem crescido bastante, quero exceder os meus limites. No entanto há que ter os pés bem assentes no chão. Não vai ser nada fácil mas quem corre por gosto não se cansa. Quero deixar de dormir só para escrever o que tenho em mente. Às vezes chego a pensar que mais vale viver em histórias assim do que na própria realidade. Admiro todos aqueles que escrevem histórias, mesmo aqueles que escrevem para a gaveta. Que a inspiração e motivação não vos falte! Estabeleci o prazo de Janeiro de 2008 para terminar este projecto ambicioso. Depois é registar a obra e enviar para tudo o que é editora. Entretanto deixo aqui expressas duas promessas que tenciono cumprir. Vou andar habitualmente vestido de preto até terminar a história e quando a concluir entregarei a cruz dos Nightwish, que podem ver na imagem, à pessoa a quem chamo Cisne Negro. Em principio não vou ter acesso à net durante um tempo indeterminado. Se puder visito os vossos espaços. Agradeço a todos os que me visitam e peço a vossa compreensão. Bem hajam!
Only to the Black Swan: Seja como for, mesmo na ausência, serás as asas da minha imaginação. Seja como for continuarei a amar-te mesmo sabendo que nunca estaremos juntos nesta vida. Acreditas na reencarnação? Sê forte, encara cada dia como um desafio aliciante. Não te deixes perturbar pelas intermitências da vida. Be brave my dear Black Swan, spread your wings and fly…
Hoje o meu sobrinho completa três anos de idade. A pessoa mais importante na minha vida. Todos os dias passados com ele são especiais. Hoje vamos passear, andar de comboio que tanto gosta e soprar as velas à noite. You are my angel... Happy Birthday!
(E a história continua... Vou postando menos mas estou cada vez mais empenhado em terminá-la. Novidades no argumento: O Cisne Negro vai ganhar uma irmã. Aceitam-se sugestões para nomes inventados a partir do nome Patrícia. Podem ler um diálogo de uma parte avançada da história no meu outro blog.)
Deixou-se ficar sozinha mais uma vez. Desta feita não podia culpar ninguém a não ser a si própria. Permaneceu estática olhando para si própria, imaginando como poderia ser filha de uma árvore. Segundo Asrae, Galieas Sirthion era a Mãe de todos os atlantes. Mas como tinha nascido dela? Onde estavam as suas raízes, os seus galhos, as suas folhas? Teriam sido retirados à nascença pela sua mãe Marjah? Então e os cisnes, eram eles que voavam até ao cimo do Monte Atlas e entregavam os bebés às mães atlantes como ouvira dizer? - Muitas questões e ninguém para as responder. Oh não faz mal, daqui a uns meses saberei como nascem os bebés. – atirou um suspiro contra a brisa que movia casualmente os seus caracóis negros. - O avô por mais ocupado que esteja vai ter que me levar a Cabassus! Apesar de nova, o Cisne tinha plena consciência de que Mar-Hir tentava estar em todo o lado ao mesmo tempo. Agia como se fosse um Semi-Deus, o braço esquerdo do Deus Poseidon, isto porque o direito é aquele que segura firmemente o Tridente da Justiça. Afinal de contas sempre tinha estudado alguma coisa acerca dos Deuses do Mar. Era impensável ignorá-los, no entanto o egocentrismo da Rinkinen era mais caprichoso que a adoração a tais invisíveis seres superiores. Não passavam de estátuas, não sentiam como ela sentia. Se o seu avô estivesse ali agora teria certamente lido os seus pensamentos e teria condenado tal heresia. - Venho para aqui para ficar sozinha? Porque nunca me leva consigo nas suas viagens? Será que se vai lembrar do que me prometera? – resmungou na direcção de Galieas Sirthion. Como poderia sequer duvidar da sua palavra quando o Pontífice sempre lhe fora honesto? Abanou a cabeça, farta daquele marasmo, farta de esperar. Foi como uma pequena grande senhora bem comportada que decidiu levantar-se lançando uma vénia à Deusa-Mãe, lançando-lhe um agradecimento sem saber ao certo porque o fazia. Quis fazer qualquer coisa de útil, o quê? – perguntou depois de se ter despedido dos seus cisnes que continuavam no pequeno lago distraídos coçando as suas penas. Houve apenas um que quis acompanhá-la. - Não me sigas… Vai ter com os outros. – pediu a Rinkinen virando-lhes as costas dirigindo-se para o Templo. Vindo do limite meridional da montanha, para lá do lago Inélun, o mais recente iniciado da Ordem Cristalina interceptara o Cisne Negro no átrio do Templo. Chamava-se Adelius, um curioso jovem das sardas e olhos negros. - Estás sozinha hoje? - perguntou fitando-a num espanto subtil. - Sim estou… - respondeu tentando disfarçar o seu incontestável constrangimento. Nem havia motivo para tal, pois Adelius era dos poucos que não a olhavam como a estranha. Era o seu amigo mais próximo, apesar de ter o dobro da sua idade. Era também sobrinho da sua ama, logo costumava encontrá-lo muitas vezes. - A tua tia disse que te esperava na Grande Biblioteca. As duas crianças aproximaram-se da fachada principal formada por um grande pórtico com tímpano, vigiado por dois hirtos sentinelas que mais pareciam duas figuras de pedra. - Disse? Mas ela sabe que tenho agora aulas de canto no Coro da Basílica Anjira. Queres vir comigo? Podes cantar connosco. – indagou num tom bem disposto. - Ca-cantar, eu? – gaguejou. - Hoje não. Talvez noutro dia. – respondera assumindo uma expressão de aborrecimento. A Rinkinen procurava desfazer-se do sentimento de abandono que a fragilizava. Tinha ficado agradada com a proposta do seu amigo mas naquele momento não estava com a voz suficientemente afinada, consequência do seu prolongado silêncio. - Então porquê? Eu sei que cantas bem! - Como sabes se nunca me ouviste cantar? – indagou de sobrolho franzido certificando-se que os sentinelas não estavam a ouvir a conversa. - Pois não, mas se dizes que a tua mãe tem um canto maravilhoso, tu também deves ter. – elogiou o sobrinho de Asrae baseando-se numa avaliação hereditária. Sem que Adelius pudesse prever, o Cisne Negro fugiu para o interior do Templo de cabeça baixa de modo a que os guardiães não reparassem nas suas lágrimas a rolarem-se-lhe pelo rosto. - O que foi que disse de errado? O Iniciado da Luz ficou estupidificado, não percebendo aquela sua reacção intempestiva. Não quis acreditar na conotação que lhe atribuíam nas suas costas. Era apenas uma criança, assim como ele. Tinha pensado segui-la todavia a meio do caminho mudou de ideias, exactamente quando observou-a a virar para o atelier, um espaço dedicado às ocupações das crianças. O Cisne Negro teria recolhido à solidão do seu quarto que tanto a martirizava. Contudo preferiu antes estar só mas acompanhada, ou seja não comunicava com as outras crianças que se sentavam em enormes mesas coladas umas às outras. Algumas pintavam, outras escreviam, ou liam. Haviam outras que jogavam jogos didácticos como quebra-cabeças ou adivinhas num burburinho que por vezes incomodava a concentração dos restantes. A filha de Cabassus ficou sentada numa ponta servindo-se da plasticina que Mar-Hir lhe tinha oferecido. Era um óptimo exercício para descontrair. Os seus dedos estavam a moldar figuras disformes misturando várias cores sem haver muita coerência. Não sabia ao certo o que estava a criar, nem estava com paciência suficiente para fazer algo mais elaborado. - Já viste o que a Estranha está a fazer? – comentou uma rapariga para aquela que estava ao seu lado. A Rinkinen reparou que estavam a troçar de si mas não quis dar muita importância. Foi precisamente após a risada das duas raparigas que observavam a sua falta de inspiração que se lembrara do que poderia fazer com a plasticina. - É isso mesmo!- exclamou numa toada sonora sem notar que tinha chamado a atenção de quase todos os que estavam ali presentes.
E porque o Natal está cada vez mais próximo deixo-vos no sapatinho esta obra-prima do génio de Adam Jones guitarrista da banda Tool. Deixem-se levar por esta Parabola. All this pain is an illusion.
Feliz Natal para todos os que me visitam. E porque não vou regressar mais este ano, desejo-vos um ano de 2007 ainda melhor.
So familiar and overwhelmingly warm This one, this form I hold now. Embracing you, this reality here, This one, this form I hold now, so Wide eyed and hopeful. Wide eyed and hopefully wild.
We barely remember what came before this precious moment, Choosing to be here right now. Hold on, stay inside... This body holding me, reminding me that I am not alone in This body makes me feel eternal. All this pain is an illusion.
We barely remember who or what came before this precious moment, We are choosing to be here right now. Hold on, stay inside This holy reality, this holy experience. Choosing to be here in
This body. This body holding me. Be my reminder here that I am not alone in This body, this body holding me, feeling eternal All this pain is an illusion.
Alive!
In this holy reality, in this holy experience. Choosing to be here in
This body. This body holding me. Be my reminder here that I am not alone in This body, this body holding me, feeling eternal All this pain is an illusion.
Twirling round with this familiar parable. Spinning, weaving round each new experience. Recognize this as a holy gift and celebrate this chance to be alive and breathing.
This body holding me reminds me of my own mortality. Embrace this moment. Remember. We are eternal. All this pain is an illusion.
O Cisne Negro estava sentada num banco de madeira no jardim que embelezava a Praça da Deusa Anfitrite. Àquela altura já não se deixava deslumbrar tanto pela paisagem bucólica existente ao redor daquela estância. Aos cinco anos era uma menina que se refugiava em pensamentos demorados junto da mais importante divindade feminina de Atlântida. Sentia-se impelida a fazê-lo embora não tivesse sido enfeitiçada pela religião. Era como se Anfitrite a chamasse e a obrigasse a falar tudo o que lhe ia na alma sem preconceitos. Os últimos três anos tinham sido demasiado pacatos. Sentira-se como um peixe fora de água. Não se enquadrava de todo naquele meio eclesiástico. Não conseguia relacionar-se com ninguém. Foi o que dissera à Deusa assumindo que estava a desrespeitá-la dalguma forma. Logo no dia seguinte, por mera causalidade, tinha lhe sido concedida alguma liberdade para que não se sentisse tão deslocada. Poderia passear livremente por toda aquela área. Tinha o aval de Mar-Hir. Desconhecia porque motivo teria permitido tal revelia. Teria sido uma intervenção divina? Teria sido Anfitrite? A criança viu serem alargadas as suas fronteiras, ainda que houvesse alguns locais intransitáveis. Mas tudo aquilo não lhe chegava. Não era somente o local que a restringia, era principalmente o secretismo daquele povo, eram todos muito fechados, demasiado introspectivos. Não deixava de ter a sua ironia, era cada um por si e no entanto eram unidos. A Rinkinen recordava-se da conversa que tivera com o seu avô: - Há pessoas que me olham demoradamente mas não me falam. Por que motivo olham tanto para mim, terei alguma coisa de errado? – questionou com aqueles olhos estonteantes, qual mar bravio que se revoltava à procura de tranquilidade. - Olham-vos num misto de admiração e condenação. Lembrai-vos, fostes a primeira bebé a nascer durante a Luz Frouxa. – recordou numa clara espontaneidade. Jamais o Pontífice lhe omitiria a condição especial que a distinguia de qualquer outro atlante. Iria informá-la, sempre que necessário, do plano que tinha reservado para si. Não era de se silenciar como muitos do Povo que tutelava. - Não faças essa cara. Não tem que ser necessariamente ruim nascer durante a fase menos luminosa do dia. Não te deixes condicionar pelo que as pessoas te dizem ou simplesmente pelo modo severo como te olham. Não lhes cabe julgar os mistérios da vida. – serenou-a colocando a mão por cima do ombro da sua neta para lhe livrar do ambiente intimidante em que se encontrara. - Daqui a uns dias levar-te-ei até Cabassus, visitarás os teus pais. – anunciou com alguma reserva. Nem Mar-Hir, que contava com uma idade avançada e uma inestimável experiência acumulada, sabia muito bem como a tratar. Ora como uma simples menina que protegia carinhosamente, ora como uma reverência atribuída a uma pessoa de um grau de importância elevado, uma pequena senhora. A forma indefinível como se dirigia à Rinkinen explicava-se pelo facto de estar a lutar contra o futuro. Sabia o que lhe estava destinado pois assim o tinha previsto. Apenas não sabia qual o momento em que a balança iria pender mais para o lado de Instrutor da Luz rígido e implacável do que propriamente para seu avô carinhoso, que a enchia de mimos. Regressada dos seus pensamentos viscerais, a filha de Cabassus afagou um dos seus inseparáveis cisnes. A família tinha aumentado entretanto. Eram agora dezasseis, onze negros, cinco brancos. Tinham acabado de debicar sementes das suas mãos. Um hábito que a sua querida mãe lhe tinha ensinado. O bando dirigiu-se até ao pequeno lago Inélun, para junto dos seus ninhos. Alguns ainda mergulharam o seu longo pescoço para mordiscar as plantas subaquáticas ficando apenas com a cauda à superfície. Ao menos desfrutavam daquele habitat natural ao ponto de rejubilarem à sua frente. Nem sempre se compadeciam com o estado de espírito da sua tratadora. Distraiu-se com o movimento colectivo de Iniciados e uma Sacerdotisa a comandá-los ordeiramente. Era Asrae. Distinguia-a ao longe pelos seus cabelos loiros claros que contrastava com a sua indumentária cinzenta. Àquela idade dispensava a atenção permanente da sua Ama. Contudo seguiu no seu encalço apenas para perguntar pelo paradeiro do seu avô. - Não está, foi meditar junto de Galieas Sirthion. - E quem é? É a sua mulher? - Não sua tonta, Galieas Sirthion é a Grande Árvore da Vida. A Sacerdotisa sorriu abusivamente antes de lhe explicar perante aquelas seis crianças já suficientemente crescidas para saberem que Galieas Sirthion não era uma pessoa mas sim o ex-libris da natureza atlante. - É a Mãe de toda a Natureza que nos rodeia. Pensei que o Pontífice te tivesse levado lá, ao Monte Atlas. Bem, sempre podes olhar a nordeste e contemplar a nossa Mãe no horizonte. O seu olhar virou-se para a direcção indicada pela Sacerdotisa. Avistou a Magna Árvore com amuo pois o seu avô não lhe tinha feito tal convite. Desejaria muito conhecê-la. Deveria ser gigantesca para ser vislumbrada dali. Apesar de ainda ser muito nova para seguir o Princípio Templário, a sua ama convidou-a a juntar-se àquele de grupo de iniciados até à Grande Biblioteca. Mais uma vez a Rinkinen recusou o convite. Era uma criança bastante contraditória. Não desejava ser preterida e no entanto desperdiçava todas as oportunidades para deixar de o ser. Tal atitude já vinha de trás, desde que tomara conhecimento dos comportamentos distanciados do Povo do Cristal. E tal distância nunca fora suprimida. E pelos vistos não seria ela a dar o braço a torcer. - Então se entretanto encontrares Adelius diz-lhe onde estamos. – requereu a Sacerdotisa antes de se encaminhar para o Templo, juntamente com os seus discípulos.
Voltei do mundo das sombras, temporariamente. Irei visitar todos os vossos blogues. Agradeço a compreensão. Fui desafiado pela Isabel, espero que ela não me leve a mal se lhe apelidar de “a escritora supersónica”. O jogo consiste em falar de 6 manias e seguir as regras desafiando 5 pessoas. Desafio desde já a Angel, Broken, Pierrot, O Alquimista, Vero, White Roses Princess, Devaneios e mais duas pessoas que não tem blog mas pode comentar aqui, sim tu mesma, my Black Swan, e tu Mónica. Não são cinco pessoas, também não sou o único a quebrar as regras :P
Então cá vão as minhas manias. Não quero alongar-me muito, estou a pensar na vossa saúde mental. Mas veremos até onde irão as minhas descrições.
1. Tenho a mania de pensar muito, tanto que me distraio. Tanto posso ser um bom observador como um distraído de primeira. Não é por acaso que ia sendo atropelado há dias.
2. Tenho a mania de ouvir música sempre que escrevo. Tenho a mania de ouvir música quando estou na rua, ao ponto de abanar a cabeça, e fazer os gestos com as mãos como se estivesse a encarnar um dos meus ídolos, Danny Carey, baterista dos Tool. Eu sei que há quem pense “olha aquele é maluco”. Melhor comprar uma bateria e fazer isso em casa para não dar nas vistas.
3. Tenho uma mania recente, ir aos grandes festivais de música e trazer muitas peripécias para contar. É sempre uma aventura. Alguém quer vir?
4. Tenho a mania das promessas a mim mesmo, como ir correr para um circuito de manutenção situado nos Pinheiros de Marim e tentar correr 6 kms em menos de meia hora. Será antes mania da perseguição?
5. Tenho a mania da desorganização para depois ter prazer em arrumar tudo.
6. Tenho a mania de ser um pouco masoquista. Mas escuso-me de me explicar. Não quero influenciar ninguém aqui.
7. Tenho a mania de andar descalço em casa, mesmo em pleno Inverno, sempre descalço e pés congelados, mesmo doente e tal.
8. Tenho uma mania estranha de registar notas através do site do Eurobilltracker (www.eurobilltracker.com). Mas há muitos malucos como eu a fazer o mesmo.
9. Tenho a mania de nunca tirar uma cruz que uso da banda Nightwish.
10. Tenho a mania de ser um tio babado. Esta é a minha mania preferida.
11. Tenho a mania de dar tudo pelos meus amigos.
12. Tenho a mania dos amores não correspondidos. Será uma mania?
E ficamos por aqui. Sim tenho consciência de que enumerei mais do que as seis manias estipuladas. Não sou assim tão maluco como podem pensar.
Sei que tenho estado ausente dos vossos blogs mas queria partilhar-vos esta obra-prima da banda Tool. Uma música de 17 minutos e 25 segundos dividida em duas partes Wings for Marie e 10000 Days. Jamais os meus ouvidos irão escutar uma música tão linda como esta... e tão trágica... Podia falar muito sobre esta melodia fúnebre mas não vou alongar-me muito mais, apreciem a letra, é de uma profundidade emocional indescritivel, sobre Judith Marie, mãe do vocalista que ficou paralisada numa cadeira de rodas cerca de 10 000 dias (27 anos e 4 meses). Se quiserem procurá-la experimentem ouvi-la no escuro, com auscultadores, ou à janela vendo a chuva cair. Irão perceber a diferença. Estou a postá-la porque confesso que não páro de chorar não só pela música em si mas por outros motivos pessoais.
Wings for Marie (part 1)
You... You believed... You believed in moments none could see You believed in me
A passionate spirit Uncompromised Boundless and open A light in your eyes that Could end all lies
Broken, broken Fell at the hands of this moment so that I wouldn't see It was you who prayed for me so What have I done To be a son to an angel? What have I done To be worthy?
Daylight dims leaving cold fluorescence Difficult to see you in this light Please forgive this selfish question, but What am I to say to all these ghouls tonight? She never told a lie, ... well might have told a lie, But never lived one.
Didn't have a life Didn't have a life But surely saved one So I'm alright Now it's time for us to let you go.
10 000 days (wings pt. 2)
Listen to the tales and romanticize, How we follow the path of the hero. Boast about the day when the rivers overrun. How we rise to the height of our halo.
Listen to the tales as we all rationalize Our way into the arms of the saviour, Fading all the trials and the tribulations, None of us have actually been there, Not like you.
Ignorant fibbers in the congregation, Gather around spewing sympathy, Spare me. None of them can even hold a candle up to you. Blinded by choices, hypocrites won't see
But, enough about the collective Judas. Who could deny you were the one who Illuminated Your little piece of the divine?
This little light of mine, the gift you passed on to me; I'll let it shine, to guide you safely on your way, Your way home...
Oh, what are they going to do when the lights go down Without you to guide them all to Zion? What are they going to do when the rivers overrun Other than tremble incessantly?
High is the way, but our eyes are upon the ground. You are the light and the way, they'll only read about. I only pray, Heaven knows when to lift you out. Ten thousand days in the fire is long enough, you're going home.
You're the only one who can hold your head up high, Shake your fists at the gates saying: "I have come home now! Fetch me the spirit, the son, and the father Tell them their pillar of faith has ascended. It's time now! My time now! Give me my, give me my wings!”
Give me my wings!
You are the light and way that they will only read about.
Set as I am in my ways and my arrogance, Burden of proof tossed upon the believers.
You were my witness, my eyes, my evidence, Judith Marie, unconditional one.
Daylight dims leaving cold fluorescence. Difficult to see you in this light. Please forgive this bold suggestion: Should you see your Maker's face tonight, Look Him in the eye, look Him in the eye, and tell Him: I never lived a lie, never took a life, but surely saved one. Hallelujah, it's time for you to bring me home.
Asrae ficou arredada das descobertas de Mar-Hir pois este focou-se exclusivamente na sua capacidade de reaver as memórias do Cisne Negro, que já de si eram dissipantes. Certificou-se que a Rinkinen andou às voltas pelo Templo isto porque assimilou muitos pormenores que a rodeavam, tendo passado por vários corredores, salões e torreões. Quanto aos sentimentos, o seu ambiente interno era sepulcral. Não houve muita tranquilidade por onde passou. Sentiu-se completamente perdida. Ainda que, a certa altura, se tivesse deparado com a presença de um colectivo de pessoas que não conseguia distinguir, provavelmente porque não existiam, não estavam verdadeiramente ali. Ao desvendar o plano esotérico do seu devaneio avistou a aproximação de uma mulher bastante atraente. O juízo pronto e concreto identificou ser o corpo e um rosto de uma ninfa. Tal figura divinal debilitava-lhe o carácter pois a pequena desejava ser tão esbelta quanto ela. A luz negra que se espalhava num dormitório fumarento foi a última visão que obtivera. A falta de fluidez daquela digressão não lhe permitira ver mais além nem através da força da energia cristalina que se manifestava mediante parábolas. - Ela está mais vulnerável de cabelo curto. - concluiu depois de ter rompido aquela projecção mental - De cabelos encaracolados é influenciada pela distracção, de cabelos curtos é influenciada pela ansiedade. – meditou numa interpretação genérica. - As crianças são tão sensíveis… - analisou a Sacerdotisa. - Se é uma questão de estabilidade então… Usando a sua natural aptidão para realizar magias, o Ancião fez crescer os cabelos do Cisne Negro com um simples gesto da sua mão direita. - É muito nova para sofrer tais delírios. Era fundamental erradicar esse temor indesejável, essa insegurança perigosa mostrada pelo seu delírio transcendental que se reproduzira na realidade, na sua queda de vinte e três degraus. Fez reaparecer os seus fios de cabelo encaracolados para que não se tornasse obnóxia do sonambulismo. - E quanto ao seu dente partido? – Asrae lançava uma questão pertinente. - Vamos deixar essa porta semi-aberta. Ela precisará de compreender a natureza das suas influências. Pode ser uma semente que mais tarde dará frutos, doces ou amargos, veremos. Seguidamente, o Ancião abanou levemente a criança para que acordasse. Não tardou muito até abrir completamente os olhos e tomar consciência do local onde se encontrava e quem estava ali consigo. - Que faço aqui? – interrogou num tiritar de frio. - Tiveste uma ligeira indisposição. Mas já estás bem. - retribuía o Pontífice num largo sorriso. Não se sentira intimidada, tampouco reparara que os seus cabelos haviam crescido num fechar e abrir de olhos. Estava apenas ensonada e um pouco confusa dos seus sentidos. O motivo porque estava ali deitada? Nem se lembrava. Tal motivo era tão negro como o seu nome, como o esquecimento. No entanto estava serena, não se sentia intimidada. - Dói-me as costas…- queixou-se. - Anda levar-te-ei para a tua cama. – prontificou-se Asrae em acolhe-la nos seus braços e levá-la para o seu quarto. Sentiu-se transportada por uma luz negra mas não se importou. Exibiu um sorriso desdentado sem se dar conta que lhe faltava um pedacinho de um dente. Apenas murmurou baixinho, não se percebendo o que dissera ao certo. - Yamsh bei…
O Cisne Negro despertara com o raiar cristalino sem se lembrar da maioria das ocorrências do dia anterior. Quando encarou o seu reflexo no espelho perguntou-se porque lhe faltava um pedacinho de um dente. Deve ter caído da cama e não se recordava, pensou. Continuou a pentear os seus cabelos encaracolados ignorando que Asrae os tinha cortado e que Mar-Hir os tinha feito crescer novamente depois daquela aventura durante a Luz Frouxa. O Pontífice já tinha chamado uma gaea para entregar a carta que a criança escrevera para os seus pais. O seu conteúdo poderia comprometer a falha da memória da Rinkinen. Precisava poupá-la por enquanto das energias ocultas que conspiravam contra si desde o dia em que nascera.
(Próximo Capítulo: As Raízes da Promessa - Cisne Negro aos 5 anos)
(A continuação de Delirium tardava a ser postada. Aqui está. Lembro que o livro "Asas Rubras" poderá, brevemente, ser encontrado no Porto, na livraria Unicep e na livraria Poetria, que ficam na baixa do Porto. Podem também encomendá-lo a partir do meu e-mail.)
Passos afligidos seguiram o fragor escutado, sinal que nem todos do Povo de Cristal dormiam nas profundezas do sossego que a Luz Frouxa lhes facultava. Asrae fora a primeira a afluir ao local do incidente. A Sacerdotisa de claros cabelos loiros despenteados escandalizou-se ao encontrar o Cisne Negro desmaiada. O seu pequeno e frágil corpo estava deitado de barriga para baixo com a cabeça de lado sobre um dos mosaicos de tesselas pretas e brancas que constituíam o chão daquele salão. Afinal não era feito de cristal como se supunha. Essa era apenas uma das ilusões de óptica criadas pelo Grande Cristal, tal como o tecto oitavado que reflectia a tepidez da sua luz. - Pobre criança… o que lhe aconteceu…? Observou instantaneamente desde o cimo da escadaria Viginti Tres e imaginou como violenta terá sido a queda. Não se pense que o pânico tivesse tomado conta de si ou que tivesse perdido momentaneamente a lucidez. Como discípula do Cristal, a sua calma era abismal. Foi peremptória em prestar-lhe os primeiros socorros tomando-lhe o pulso. Como o achou regular, procurou, cuidadosamente, saber se teria alguma contusão ou alguma fractura exposta. Após uma minuciosa busca não lhe encontrou qualquer mazela exceptuando o sangue junto à sua boca. Constatou que tinha partido um pedaço de um dente, um dos incisivos. Levantou-se envolvendo-a nos seus braços quando nesse preciso momento alguém vindo do exterior do Templo surgia sobre a sua silhueta. - Venerado Pontífice…- Asrae virou-se repentinamente num susto do coração. – O Cisne caiu, está desmaiada é preciso que… - Não. Está simplesmente a dormir. – esclareceu de imediato. - Saiu ilesa. Terá sido este, um acontecimento milagroso? - questionou-se num trejeito vulgarmente irónico. Asrae juntou-se àquela deferência ortodoxa, segurando a criança no seu colo com toda a sua admiração enquanto que Mar-Hir examinava a sua condição física antes de averiguar a psicológica. - Tantas e tantas vezes que descia a correr estas escadas que algum dia… A ama calou-se apercebendo-se que o Ancião lhe sugeria um domínio silencioso. Num temperamento clemente, Mar-Hir colocou a mão sobre os lábios cortados da Rinkinen curando-os. Notou no pedaço de dente que lhe faltava. Proferiu no seu jeito bastante sereno e simultaneamente esfíngico as mesmas palavras proféticas que lhe costumava dizer: - Mostrar-te-ei o teu caminho, a tua rota. Sofrer não significará a tua derrota… Descansa por agora meu pequeno cisne… descobrirei o que te perturbou… O Pontífice ordenou à Sacerdotisa que a colocasse de novo no exacto local onde a tinha encontrado e na mesma posição. Precisava de captar o que realmente a precipitara naquela queda. Para isso iria basear-se na teoria da reminiscência, activando uma projecção hipnótica para recuperar as suas visões. Com a sua mão larga colocada sobre a cabeça do Cisne, o Ancião apercebera-se que aquele bebé tinha entrado num transe profundo tinha entrado num transe profundo. Tentava entender a linguagem daquele delírio que havia sofrido. Por mais absurdo que fosse teria algum significado. Estava a visionar uma breve gravação dos seus pensamentos, ideias, acções, desejos e temores quando fora interrompido. - O que foi que ela sonhou? – interpelou Asrae na sua inquietude, agachada tal e qual o Pontífice. - Não foi um sonho. Não vos induzis em erro. Ela esteve sempre acordada. – assegurou sem perder a concentração. - Foi um delírio. Perscruto visões que lhe bloquearam a mente e dominaram o seu corpo. - Um acto de sonambulismo…- comentou num semblante cismático. - E que visões perscrutais?
Prometi esclarecê-los quanto ao meu primeiro livro “Asas Rubras”. Pois bem, trata-se um livro de poesia que dedico exclusivamente a uma pessoa. Quem o ler descobrirá o seu nome. Não fiques corada! Sim tu! :P
Só poderá ser encontrado no Porto. Quem estiver interessado e não pode deslocar-se à maravilhosa Invicta, poderá encomendá-lo via correio, pois na próxima semana terei alguns livros para vender. Escrevam-me um e-mail (luigi_delvecchio@hotmail.com) com o vosso contacto que enviarei o livro autografado. Poderão também contactar a editora:
Para já fiquem com um dos poemas de “Asas Rubras” escolhido pela rapariga a quem chamo Cisne Negro.
A Pirâmide estava a ruir!
A pirâmide estava a ruir… Encontrávamo-nos no seu interior. Não havia nenhuma saída Tambores… dezenas deles. Os seus sons eram graves e sincronizados. Não havia saída Celebravam uma espécie de ritual fúnebre… Não sabíamos porque não nos salvavam Pedras caíam à nossa volta. Havia muita poeira. Sabíamos que a pirâmide iria ceder Mesmo que os nossos rostos estivessem encobertos… tossíamos compulsivamente Apenas conseguíamos encher os pulmões de oxigénio empoeirado para… Gritar! Havia escassos intervalos em que não se escutava aquele timbre tão deprimente E quem eram os insensíveis que nos deixavam aqui debaixo desta catacumba? Poupem-me a misericórdia, não a peço… Mas salvem ao menos esta mulher Esperava que tivessem escutado o meu suplício, pois não havia outra saída Um novo abalo fez es-tre-me-cer tudo… se ela não me tivesse empurrado Teria sido esmagado por um enorme pedregulho que caíra abruptamente Éramos cingidos pelo desabar dos tempos em plena noite descomposta
E acarinhámo-nos mutuamente na altura da tão indesejada despedida A partir de então deixámos de ouvir tambores… deixámos de ouvir A Pirâmide…! continuava a ruir…! E não houve nenhum instante Em que tivéssemos deixado de amar a Humanidade. E quem foi Que esperou a Noite dos Vendavais para sorrir durante o caos? Tu…! O teu nome… poderá ter vários significados, mas vejo Apenas um… Coroada de Luz… aquela que nos concederá A Salvação… Ide agora… A pirâmide vai finalmente ruir Deixa-me ocupar o Trono Negro, é o meu compromisso Não o vejo como sacrifício mas sim como uma bênção Não me arrependerei de ter feito parte da tua história É na escuridão que velarei sempre por ti, agora ide! Tens pouco tempo para regressares ao teu mundo! A areia fina caía sobre nós. Como era tão célere! Ficaríamos os dois ali soterrados nas entranhas Da Pirâmide que em breve… deixará de o ser E quando alguém do exterior falou connosco Tornámos a gritar acenando com os braços E assim aquela voz divina nos localizaria Perante aquela Tempestade de pedras e De areia que já nos ia chegando pelos Nossos joelhos. Esse mesmo alguém Atirou uma corda… E de imediato Lacei-a à tua cintura… e disse-te Let me hold my Dearest Friend! Now go up there…show them Who you really are, my Lady You said: how about you…? I… I won’t leave you here! Look Kelly, I’ll always be With you… E libertei-te Da areia… a pirâmide Estava a ruir e eu… Eu testemunhava Essa travessia Da alma e tu Olhaste-me Lágrimas Ecoavam Kelly C A Luz És tu Tu !
(Nota Prévia: Apesar desta ser a parte mais longa que já postei gostaria que a lessem com atenção e me dessem a vossa opinião. Estava difícil chegar a esta parte...)
Estava já no seu quarto pronta para dormir no aconchego da sua cama espaçosa. De roupão feito de linho e o Cisne Negro buscava no seu cérebro sentimentos de medo e angústia, sofrimento e dor, tristeza e alegria. - Queria estar em casa agora…- murmurou profundamente. Desejou ter cabelo para enrolar no dedo. O cansaço reteve a sua mão de o tentar, era tão inútil como o fugir dali. Jamais o conseguiria. O sono tardava a surgir devido a essa teimosa inquietação. A Rinkinen sentia-se impelida por uma preocupação mental. O silêncio costumava pregar tais partidas. Por entre reviravoltas distraídas no seu leito, a sua mente sugeriu-lhe um delicioso passeio pela divagação cristalina. Assim o fez sem se restringir. Afastou os lençóis acetinados e levantou-se. Olhou em seu redor à procura de um motivo que a tranquilizasse. Não encontrara nenhum. Quase tudo o que ali havia não era seu pertence. Não lhe atraía de todo o aposento que lhe fora destinado. Assim como não lhe atraía viver na Montanha da Luz, por mais espaventosa e agradável que fosse. Não estava a ser ingrata, estava apenas a ser honesta. Foi desse modo que partiu em busca de uma estabilidade que aquele espaço não lhe proporcionava. Seguiu um sentido tão embrionário como era o seu sexto sentido. Caminhou descalça em passos afincados. O chão poderia ser frio mas não ao ponto de contrariá-la. Por momentos sentira-se fora de si. Quase sem se aperceber encontrava-se a vaguear pelo corredor principal do primeiro andar. Sentia-se uma espeleóloga sem causa. Abeirou-se a uma das muitas amplas janelas e foi aí percebeu qual a sua intenção: indagar o fenómeno que a Luz Frouxa causava em si. Prosseguiu para indagar o outro lado da sua realidade. Perdeu-se em voltas labirínticas naquele Templo notabilizado pelos seus intermináveis halls e torreões geometricamente perfeitos. Poucos eram aqueles que tinham o privilégio de passear naquele tão imponente e tão restrito Templo. A sua curiosidade furtiva levou-a uma grande sala com imensas cortinas de seda de várias cores que se movimentaram num sopro de ar. Sentira de imediato uma descarga friorenta a percorrer a sua pele. Verificou a entrada que dava acesso a mais um salão. Caminhava lentamente de olhos elevados no fantástico tecto abaulado. Estava tão distraída que não tinha reparado que se encontrava num dormitório e que estava cercada de pessoas que dormiam tranquilamente. A surpresa levou-lhe a mão à boca. Quando distinguiu aqueles corpos dormindo em inúmeras camas expostas em fila. A luz era diminuta, mas a suficiente para enxergar aqueles rostos. Não reconhecia nenhum deles. Eram todos adultos na casa dos vinte, trinta anos. Não lhe pareceu razoável estar ali, sentia-se como uma infiltrada. E como não desejava causar nenhum distúrbio, seguiu em frente até a uma porta de madeira lustrosa. Caminhava de bico de pés para não acordar ninguém. Entrou na divisão adstrita de costas voltadas, enquanto fechava a porta sem causar o mínimo ruído. Quando girou sobre si própria apercebera-se que tinha acabado de entrar noutro dormitório muito idêntico ao que tinha estado anteriormente. Desta feita os seus ocupantes aparentavam uma idade mais avançada. - Estarei no Templo do Sono? – divagou pensativamente numa expressão patética. Só lhe faltaria encontrar um dormitório de crianças. Tivera o mesmo pressentimento que a levantara da cama, a mesma sensação instintiva. Havia qualquer coisa que precisava ser descoberta, uma verdade escondida. Escutou murmúrios vindos da primeira camarata. Voltou ao mesmo. Os seus passos foram mais lestos quando os seus ouvidos escutaram o estrépito acutilante de um jarrão de cerâmica que caíra ao chão e partira-se. Entrou descaradamente esperando encontrar alguém acordado mas tal não se sucedeu. Porém sentiu a presença de alguém atrás de si. A princípio não conseguia ver para além o vulto de homem de elevada estatura. - És tu avô? Não obstante a pergunta da criança, o homem permaneceu calado, impávido e sereno. O seu silêncio dava a entender que não lhe constituíra nenhuma surpresa encontrá-la ali. Seria um dos guardiães do Templo? O Cisne Negro tentara adivinhar sem se aproximar da pessoa que não conseguia distinguir com exactidão. Temia ouvir um sermão, ou não fosse o Povo do Cristal caracterizado pela sua disciplina austera. O homem desviou os cascalhos do que antes era um jarrão para retirar um pequeno objecto cilíndrico que cabia na palma da mão. Fê-lo rolá-lo pelo chão até parar junto aos pés da criança. Era uma esfera prateada. Tocou-lhe considerando desde logo uma frivolidade. Bocejou num profundo anseio. As suas pálpebras começavam a pesar-lhe. Esfregou os seus olhos sonolentos à medida que estranhava como ninguém tinha acordado, nenhum deles! Uma bebé de apenas dois anos não conseguia conceber tal descanso imperturbável. O vulto ergueu-se fitando directamente a Rinkinen e falou-lhe numa língua que não compreendia. - Ato Nuardi thaj Sictum… Foi-lhe proporcionado enxergar com clareza quem estava ali consigo. Afinal não era um homem mas sim uma mulher lindíssima de longos cabelos doirados, um rosto angélico e um corpo esguio. - Yamsh bei…- pronunciou numa voz absortamente doce colocando o dedo sobre os seus lábios finos. A mensagem era clara. O silêncio. Abordou-o com exímia delicadeza. Apenas escutava o bater do seu coração. - Tenho sono…- murmurou com a cabeça direccionada para o chão obscurecido. Mirou aquela esfera prateada que magicamente se deslocou ligeiramente antes de libertar uma espécie de fumo espesso. A própria esfera tinha mudado de cor, já não era prateada mas sim negra. Quis demandar à ninfa o que estava a acontecer quando inesperadamente esta se projectou violentamente na sua direcção. Na sua sonolência achou que tudo o que ela queria era segurar aquela esfera e reter os fumos que se estavam a espalhar tal e qual como o queimar de incenso. Não obstante os seus engulhos medonhos revelavam o verdadeiro rosto daquela mulher. Jamais lhe poderia ser atribuída o estatuto de bela quando as suas órbitas eram desproporcionadas em relação ao seu rosto desfigurado. Numa perplexidade assustadora, a Rinkinen desatou a correr tentando fugir àquela criatura horrorosa. Podia escutar aquela voz exasperante e tinha a noção que ninguém ali iria socorrê-la. Pudera, estavam todos aprisionados num sono eterno. Os passos titubeantes e olhos fechados da criança tornaram-se num grande perigo pois não sabia por onde se endereçava. Poderia ir contra uma parede, um pilar ou uma porta e magoar-se seriamente. Fugiu na cegueira tão apavorada que, a dada altura, sentiu o chão a fugir-lhe dos pés. Afinal tinha descido um degrau das escadarias Viginti Tres. Apercebera-se tarde demais pois tinha colocado mal o pé nesse primeiro degrau e desequilibrou-se de tal forma que não conseguiu proteger-se do trambolhão. A luz do mundo cristalino apagou-se na vertigem e no embatimento da sua cabeça na dureza do mármore. Não houve tempo para evitá-lo, o seu corpo tinha rolado desamparadamente os vinte e três degraus só estagnando no rés-do-chão. Aquela queda abrupta deixara a bebé inanimada… o silêncio regressara em absoluto…
Mar-Hir abraçou-a numa infinita benevolência. Sentira-se tocado pela sensibilidade daquela criança tão nova e já lidava com as promiscuidades do karma. - Felicito-te! És uma criança abençoada! - considerou colocando a mão sobre a cabeça da Rinkinen. - Estou certo que Mariah e Har-Meand irão rejubilar com a recepção desta tua primeira carta. – brincou no seu jeito mais paternal. A memória do Pontífice era povoada por um número indeterminado de momentos como aquele. Momentos longínquos é certo, mas era aquela criança, nenhuma outra, que suscitava a leitura do memorial do seu passado. Jamais esqueceria o que se sente quando um pequeno ser nos chama de pai, pois já tinha tido um filho outrora. Nunca tinha sido avô. E agradava-lhe imenso tê-la como sua neta. - E quanto a essas aves encantadoras a que chamamos gaeas… fica sabendo que são capazes de falar como se de uma pessoa se tratasse! – elucidou com ênfase. De semblante boquiaberto, o Cisne Negro desejou ter uma gaea como companhia de forma a suprimir a solidão de que padecia. Porém, na sua mais abreviada candura, reformulou o seu pensamento irreflectido. Jamais trocaria o amor pelos seus cisnes, mesmo que estes não proferissem palavras, por uma ave que falava por mais surpreendente que lhe pudesse parecer. Pulou no seu modo tão distintivo imaginando-se um cisne a abrir as suas asas e a querer voar. Quantas vezes repetira os mesmos gestos e nunca conseguira aprender a voar? - Ainda que… deixa-me dizer-te que tens alguns erros aqui, o que é perfeitamente normal. - interrompeu avassaladoramente o sonho espalhafatoso da criança. - Aliás surpreende-me o facto de serem tão poucos! – elogiou antes que fizesse um estrondoso burburinho acerca das suas falhas. A Rinkinen quis saber onde tinha errado. Para além da sede de aprendizagem, herdava o perfeccionismo do seu pai. Tinha consciência que não dominava a pontuação, embora Asrae já lhe tivesse explicado. Então, Mar-Hir corrigiu-a na sua voz mais pautada. Falou-lhe da questão dos acentos e dos sons que não tinha associado correctamente. Fez questão que pronunciasse verbalmente as palavras que se tinha equivocado para que lhe elucidasse quanto às sílabas referentes a esses sons, como fora o caso de “que-ro”, “jei-to” ou “ou-vis-te”. - Diz-me pequeno Cisne... já és capaz de dizer anticonstitucionalmente? – desafiou com audácia. - Anticonstitucionalmente. - repetiu magistralmente sem soletrar. - Muito bem! O Ancião cruzou os olhos com Asrae que ainda permanecia no topo das escadarias Viginti Tres. Numa comunicação telepática o Pontífice propôs-lhe que se retirasse para o cumprimento dos seus outros serviços. Além de ama do Cisne Negro, a Sacerdotisa dos cabelos claros dirigia um grupo de Iniciados e Acólitos no ensinamento da psicologia metafísica, que tem como base a origem e destino da alma. - Acompanha-me num passeio. - sugeriu o avô harmoniosamente. A criança seguiu-lhe os passos deliciada com a ideia de espairecer um pouco. Sempre era mais agradável do que estar fechada naquele silêncio templário quando lá fora a natureza sumptuosa e ruidosa chamava pelo seu nome. Por outro lado assustava-lhe que, pelo caminho, alguém reparasse no seu cabelo curto. Era um suplício que atacava o seu espírito fragilizado. Para escapar ao constrangimento e à vergonha caminhava muito próximo do Pontífice tornando-se na sua sombra. Desse modo ninguém ousaria fazer troça de si. Ultrapassaram um corredor onde estavam expostos frisos e baixos-relevos comemorando a arte medieval, os primórdios da Fundação daquela Tribo. O grande clarão revelava que se encontravam no exterior. Eram ardentes os raios luminosos azuis transparentes emitidos pelo Grande Cristal, provenientes da Pirâmide de Cristal, bem no cume da montanha mais elevada de Atlântida. Havia uma outra magnificência que se encontrava mesmo em frente. Era a estátua da Deusa Anfitrite de proporções descomunais, mais de duas dezenas de metros de altura, seguramente. Situava-se bem no centro daquela praça. Tal divindade fora esculpida para representar uma tranquilidade inabalável.
Nesse instante Mar-Hir confrontou-a com a seguinte pergunta: - Estás a gostar de viver aqui? – averiguou querendo libertá-la dalguma inquietação que costumava estar patente na sua expressão. - Às vezes sinto que são um pouco duros. Gostava de poder brincar com as outras crianças que aqui vivem. Raramente as vejo. – desabafou num suspiro. - O avô tem algum filho? Entretanto um grupo de jovens iniciados passava-lhes pela direita a dez metros de distância tomando a direcção oposta. Impulsivamente o Cisne Negro acelerou o passo refugiando-se atrás de uma das pequenas estátuas de ninfas montadas sobre cavalos-marinhos. - Tive um… - murmurou pensativamente sem se aperceber do súbito receio da Rinkinen. - E onde está? O que lhe aconteceu…? – indagou sem ter a verdadeira noção do modo bastante informal com que lançara tais questões. Ninguém teria tal atrevimento perante Sua Santidade. - Caiu…- respondera muito sucintamente desviando o olhar. Chegaram até à extremidade daquela praça adjacente ao Templo e aí puderam apreciar a vista panorâmica do continente atlante, do mar Solahum, das ilhas mais próximas, do Monte Atlas, com a Venerada Sirtione, a Árvore da Vida, enraizada no seu cume, e bem lá no fundo os tons acinzentados das Montanhas Naavram. Aquele era, indubitavelmente, um ponto privilegiado de observação para toda a natureza envolvente. O estrépito que se ouvia incessantemente provinha da enorme cascata denominada A Queda de um Anjo, a fronteira que dividia os reinos Rinkinen e Margrietus, com o Povo do Cristal estabelecido no coração de Atlântida, a cidadela de Poseídia, que culminava naquela Montanha da Luz. Os quatro sinos da capela dos Anjos do Mar tocaram simultaneamente. Só nessa altura é que o tempo fora relembrado. Ambos voltaram a observar o topo da Grande Pirâmide. A luz prismática do Grande Cristal começara a diminuir comedidamente a sua exuberância. Era o começo do período do dia a que designavam A Luz Frouxa.
Mar-Hir despedira-se do Peregrino da Luz com quem tinha estado a conversar. Todavia aquele que envergava as vestes atribuídas a um acólito permanecera na sombra daquele que cuja túnica era constituída por partículas de brilho diáfano. Equivocavam-se aqueles que julgavam que tal fulgor provinha do seu traje. Pura ilusão! Provinha do seu corpo, da sua mente clara. - E o que direi ao mensageiro da corte Rinkinen? - Direis que amanhã receberão a minha visita. - respondera sem qualquer tipo de provocação ou pretensiosismo. O Pontífice tinha a noção do perigo que representava a sua recusa quanto à solicitação do Rei Barvaatus em receber a visita do Cisne Negro. Aquela não era de todo altura indicada para importuná-la com visitas de etiqueta que, até tinham o seu cunho de aborrecimento para um bebé de dois anos. Afastou-se do Acólito numa prolixidade flutuante até à escadaria Viginti Tres tentando travar a correria tresloucada daquela criança. - Mais devagar… - advertiu receando que algum dia ainda viesse a cair daqueles degraus. Era uma escadaria de sete metros de largura caracterizada pela sua simplicidade elegante. Cada andar do Templo era separado por um lance de vinte e três degraus. Asrae encostava-se ao parapeito do primeiro andar, junto ao corrimão de mármore. Não fez menção em descer, limitou-se em observá-los com o devido respeito. Sabia perfeitamente que havia uma maior empatia entre os dois. E no entanto era a ama quem passava mais tempo com a Rinkinen. Era a Sacerdotisa quem lhe estava a ensinar a ler, a escrever, a contar e até a nadar. O Pontífice tinha uma participação na sua educação um pouco mais distanciada. Era essa a sua intenção de modo a não exigir demasiado de uma criança. Esperaria pelo momento certo para lhe ensinar os princípios cristalinos. O Ancião e a criança encontravam-se no grande salão suportado por várias colunas em capitel. Por cima das suas cabeças, um tecto oitavado que reflectia os movimentos radiosos do Grande Cristal ao longo do dia proporcionando um deslumbrante espectáculo de luz. As paredes eram compostas por azulejos com pinturas sublimes que retratavam capítulos da História daquele povo tão misterioso. O chão em que caminhavam resplandecia como se fosse feito de cristal. O Cisne Negro ainda se sentia eclipsada por tão intensa luminosidade. - Avô! Avô! – arregalou os olhos. - Escrevi a minha primeira carta! - exclamou numa imensurável azáfama mostrando-lhe o papiro escrito com a sua peculiar caligrafia. - Podes lê-la? Vá lá! - Quanta pressa meu pequeno cisne… - comentou num susto sorrateiro. – Leio pois, para gáudio deste velho que chegou tarde para assistir a tão iluminado momento. A menina definiu um sorriso consolador. Não poderia censurá-lo nem tão pouco odiá-lo. Bastava-lhe a sua presença para fazer desaparecer a sensação de desamparo tão profundo que sentia naquele monte angelical. As mãos idosas pegaram gentilmente no papiro. Achava engraçado o facto das linhas tortas lembrarem um pouco a forma curva das asas de um cisne. Numa voz afectuosa começou a decifrar aqueles rabiscos:
“Querida Mãe, Querido Pai Sim sou eu, estou a escreve-los a minha primeira carta. Nao sei se tou a escrever bem. Expero apanhar o geito. Tenho tantas saudads vosas mas inda bem que nao estao ca oje porque a minha querida Rae cortou-me o cabelo outa vez. É ela que está a ajudar-me a excrever. Pai tenho desenhad sempre que poso. Hum dia vou desenhar como tu, vais ver. Mãe tenho sido bem tratada, dexcansa, houviste? Nao kero que chores mais, por favor. Uma gaea ira entregarvos esta carta. Nao sabia que os pasaros falavam. Porque é que os meus cisnes nao falam comigo? Nao tenho geito para despedidas. Amo-vos.”
Apresento-vos um dos motivos porque tenho estado um pouco ausente. Esta é a capa de um livro de poesia que vai ser editado muito em breve. Não se entusiasmem em demasia, logo vos darei mais detalhes. Quanto à história do Cisne Negro e no que diz respeito ao capítulo Viginti Tres, este ainda terá mais duas partes. Ainda estará para ser descoberto o significado em torno do 23. Be patient. Agradeço a todos os que me visitam, àqueles que lêem os meus textos, aqueles que não lêem mas comentam, e aqueles que não comentam mas visitam este meu espaço perdido no universo da blogosfera. Irei comentar os vossos espaços com a devida atenção, sempre que puder.
And for the record the woman in the book cover is the real Black Swan. Yes, she’s not just a character in this story. She’s more than that. “She is the Light, the Way that you only read about”. I want to thank you for being such an inspiration, for all the support, for all the years we talk, all the conversations, all the sad and happy moments. The way I see it, we’ll never be apart because your smile is everything to me.
O entusiasmo da bebé era enaltecido pelo brilho dos seus olhos quando Asrae lhe entregava os utensílios necessários para escrever uma carta: uma folha de papiro e uma caneta de tinta permanente. Ambas estavam sentadas junto àquela estapafúrdia escrivaninha aprimorada em vinhático que se encontrava colocada a um canto do quarto. A ocupar o centro estava a cama espaçosa onde inúmeros arcos em ascensão tinham sido incrustados na madeira sugerindo um longo trajecto em busca de uma consciência superior. A parede à direita era coberta por duas janelas em ogiva ligeiramente afastadas, ou não tivesse aquele Templo o cognome de Templo das Janelas Duplas. O Cisne Negro ainda era nova para tentar perceber os desígnios das janelas em par. Na parede mais afastada, a da esquerda, estava mobiliário bem trabalhado, uma estante povoada de livros dos mais diversos géneros. Fluía ali uma excessiva magnificência material e espiritual o que levava a crer que aquele não era de todo um aposento decorado para um bebé. Seguramente aquele amplo aconchego tinha pertencido a um estudioso, presumivelmente um Sacerdote. A pequena criança pegava na caneta de um modo peculiar. Dobrava os dedos unidos da mesma forma que pegava num talher. Era de facto alimento para o seu conhecimento. - Como vou começar… - pensou, rebuscando as palavras adequadas ao seu subconsciente. – Ah, já sei… - Permites que veja o que estás escrevendo? - indagou a ama inclinando a cabeça para focar a tinta húmida que secava no papiro. O Cisne Negro encheu a boca para lançar um não. Era tão engraçado o jeito como ela usava o não tão condignamente que Asrae não se sentiu incomodada com o secretismo imposto pela criança. A Rinkinen debruçara-se completamente sobre a folha de papiro de modo a protegê-la dos olhares de soslaio da Sacerdotisa. A forma da sua caligrafia era pequena e desalinhada. Notou que estava a dar um espaço razoável entre as palavras. De início aparentava ser um descuido pela falta de prática que tinha em escrever com uma caneta tão fina como aquela. Os seus dedos seguravam-na num ímpeto descomedido para não distanciar demasiado as letras e consequentemente as palavras. Tinha treinado as formas de todas as letras no quadro preto que o seu pai lhe oferecera. Sentir-se-ia muito mais à vontade em escrever com um giz pois se se enganasse poderia servir-se do apagador enquanto que aquela caneta de tinta permanente deslizava na folha como se tivesse vida própria. Asrae recuava a essa altura relembrando com ternura a reacção da bebé quando lhe entregara a primeira caixa com giz de várias cores. - Porque não há giz preto? - demandou numa pretensão premente. - Olha minha filha, não há porque o quadro é preto… se desenhares com um giz preto num quadro preto não conseguirás ver os traços. – explicou amavelmente. - Mar-Hir era capaz, ele vê tudo…- comentou num breve devaneio. - No outro dia tava a mostrar-lhe a língua quando ele estava de costas e ele disse: “tens orgulho na tua língua. Irás aprender a usá-la com fulgor”. O Cisne Negro continuava a escrever lenta e descontraidamente. Havia momentos em que a caneta parecia dançar sobre a folha de tão empenhados que aqueles dedos estavam. Mordeu o lábio inferior sinal comprometedor, pois perguntava-se se a sua ama estaria a ler-lhe os pensamentos. Tinha acabado de mencionar o seu nome na carta e não era nada abonatório. Estava a referir-se ao acto carinhoso de lhe ter cortado o cabelo. Contudo, soube disfarçar o constrangimento arremessando-lhe uma pergunta inocente. - Como se excreve excrever? - É fácil. Eu soletro para ti. E-S-C-R-E-V-E-R- indicou a ama. O Cisne Negro escrevia através dos sons e raramente recorria à disponibilidade da sua ama em querer ajudá-la. Algumas das suas dúvidas mais frequentes estavam relacionadas com as semelhanças sonoras do “s” e do “x”, do “k” e do “q”, bastante utilizado na linguagem Rinkinen. Quanto à acentuação decidiu não colocar pois ainda não sabia ao certo como funcionava esse sistema que enfatizava sílabas. Atribuía o pensamento relacionado com o seu pai escrevendo de um modo mais pincelado. Seria uma pintura meramente abstracta pois rapidamente saltou de um sorriso colorido para a uma figura mais tristonha e tresmalhada. Estava espelhado na sua intimidade o martírio da sua mãe. Por um instante interrompeu o intelecto da escrita. Mostrou-se bastante reticente em como terminar a carta. O nervosismo ordenou, teimosamente, a sua mão em busca de cabelo para encaracolar e não o encontrou. Finalizou a carta sem mais demoras enquanto esboçava uma cara aflita. - Tenho que fazer xixi! Ainda pensou levar a carta consigo mas confiou em Asrae que não iria bisbilhotar. Atrás de si no canto perpendicular a bebé desviou uma cortina espessa de cor carmim que encobria a divisão sanitária. - Não espreitar! - abanou vigorosamente a cabeça antes de entrar nesse compartimento privado. Assim que voltou, já mais aliviada, a ama perguntou-lhe com curiosidade na sua voz: - Não vais deixar que corrija a tua carta? - Não. Quero que seja o avô a corrigi-la. - respondeu com prontidão. - Está certo. Vamos procurá-lo. - levantou-se cedendo à vontade da criança. As duas saíram do quarto encontrando uma acalmia que se expandia ao longo daquele corredor luminoso. Enquanto caminhavam num ritmo lento pleno de admiração, o Cisne Negro jurou ter escutado lá bem no fundo daquele silêncio a voz inconfundível de Mar-Hir. - Ele já chegou! - anunciou vivamente de sobrancelhas frisadas. E lá foi ela a correr com a folha de papiro na mão direita. Era impelida pela linguagem serena própria do Ancião que se encontrava a dialogar com alguém no rés-do-chão. A criança estava tão eufórica que descera precipitadamente os vinte e três degraus até ao piso inferior. Asrae já lhe tinha ensinado a contar até vinte e três na língua Rinkinen. Era uma prática quotidiana. Aproveitavam-se dessa escadaria para exercitar a aprendizagem dos números. Desta feita os números foram ignorados em favor das letras, da carta que tinha acabado de escrever, a sua primeira carta.
A luz cristalina girava durante o tempo irredutível. Quarenta dias passaram desde o segundo aniversário do Cisne Negro. Os seus olhos pardacentos estavam mais afastados do solo. Era uma consequência natural, a ampliação do seu centro de gravidade. As suas feições tinham mudado pois encontrava-se mais magra. Era uma evidência clara, tanto que as suas bochechas já não estavam tão salientes. Mar-Hir já não as puxava carinhosamente como era seu costume. Há hábitos que se perdem com a idade mas prontamente outros tomam o seu lugar. Como o hábito espontâneo que o Cisne Negro tinha em sorrir fora substituído pelo hábito do desgosto por estar tão distante da sua casa, dos seus pais. O Pontífice era vigilante e perscrutava que tal abatimento estava a prejudicá-la. Nem sempre viver na Luz significaria estar imune a qualquer vendaval de obscuridade. Analisava o seu crescimento em termos de conhecimento adquirido. Mesmo já usando um vasto vocabulário, a sua aprendizagem estava a ser mais comedido do que nos seus primeiros meses de vida. Também não era de todo aconselhável ter mais pressa que o próprio tempo. O Pontífice era paciente. - Habituar-se-á a viver próximo da Claridade Absoluta... – reafirmava convictamente o Ancião. - Serei o pavio que acenderá a chama da sua determinação. A vida daquele inocente bebé era totalmente controlada pelo Povo do Cristal, principalmente por Asrae, que funcionava como a sua sombra e Mar-Hir como a sua luz que intercedia de quando em vez para embalá-la. Era notório que se sentia enclausurada num exílio onde todos eram muito mais velhos. Não tinha companhia de ninguém da sua idade com quem pudesse conversar ou até brincar, caso se lhes fosse permitido tal veleidade. Os únicos dias em que aliava a sua disposição ao brio eram os dias em que recebia a visita dos seus pais. Ou então quando visitava o Templo da Iniciação. O contacto com outras crianças cativava-lhe o espírito mais perspicaz. A sua lábia tornava-se muito mais aprimorada e agia de um modo completamente desinibido. Esses eram factores decisivos para os anos vindouros.
Na Montanha da Luz O Cisne Negro estava alojada no primeiro andar do Templo da Luz. Havia um corredor iluminado por trinta e seis janelas rectangulares intencionalmente distribuídas aos pares. O seu quarto situava-se no flanco esquerdo desse corredor, precisamente no seu limiar. Para lá da porta escutava-se o ruído incisivo de uma tesoura. Eram os dedos insensíveis de Asrae que seguravam tal instrumento. Tinha acabado de cortar o cabelo à bebé. A Rinkinen pegava num espelho redondo lobrigando o seu couro cabeludo com receio de se assustar. O seu trejeito impetuoso era demonstrativo do quanto detestava ter perdido os seus preciosos cabelos encaracolados. Achava, na sua mais imaculada inocência, que os seus oito cisnes a detestavam de cabelo tão curto. Era como se tivesse perdido as suas penas e deixasse de pertencer ao grupo. Para o Cisne Negro poderia ser um acto cruel mas era um daqueles males necessários. Era a única forma de perder o tique de enrolar o cabelo no dedo. Essa peculiaridade retirava-a concentração, de se perder em constantes divagações. Ali nenhum tipo de inércia ascética seria permitido. Esse era um dos mandamentos do Povo do Cristal que tinha não só aprender como seguir. O que era contraditório pois eram um Povo que vivia afastado do tumulto, não intervinham nas frequentes divergências dos dois reinos. A bebé na sua perfeita ingenuidade considerava tamanha rigidez, um autêntico absurdo. Era-lhe de difícil compressão a disciplina cristalina. E em abono da verdade aquele não era de todo um lugar para crianças de dois anos, fossem Rinkinens ou Margrietus. As únicas crianças filhos do Povo de Cristal eram mantidos sob o mesmo regime que o Cisne Negro: uma exígua convivência colectiva que se traduzia numa descabida dose de solidão em prol de um maior aprofundamento espiritual. Ambas envergavam indumentárias que desciam até aos pés e eram ajustadas por cintos largos prateados. Ao Cisne Negro foi-lhe atribuída uma dessas vestes simplificadas de tom azul cândido, característica de quem servia a causa templária. - Porque me estás a pentear? Não tenho cabelo nenhum para ser penteado! - exacerbava, olhando através do espelho invejando-lhe o cabelo longo e luminoso. Asrae apenas respondera com o seu silêncio. Já não era a primeira vez que se encontravam naquela situação. No entender da Sacerdotisa a teimosia da bebé não iria levar a avante. Insistiu em compor-lhe o cabelo. - Porque tenho que parecer um menino? - questionou no seu aborrecimento ao encarar aquela visão aterradora caída no chão arroxeado. - Já te dei a resposta. – suspirou cautelosamente. - Tens a tendência em te distraíres sempre que recorres a esse tique de enrolar o cabelo no dedo. É desnecessário tal exercício, o teu cabelo já cresce encaracolado. A Sacerdotisa da Luz notou que talvez as suas palavras tivessem saído demasiado rudes da sua boca. Por momentos esquecera-se que era a sua ama, não sua instrutora. Esquecera-se do que as crianças da sua idade necessitam, amor e conforto. Por entre o oblívio, Asrae encontrara um motivo que empolgaria a bebé de tal forma que seria a própria a esquecer-se da lástima de ter perdido momentaneamente o seu cabelo. - Não querias escrever a tua primeira carta? Que tal começarmos agora mesmo. - definiu num sorriso encorajador. Após a mágoa a expressão facial do Cisne Negro era colorida por um distinto contentamento. Saltou da cadeira impulsionada pela vontade em escrever para os seus pais.