segunda-feira, julho 14, 2008

23 meses e alguns dias

Regressei das catacumbas por assim dizer. Ando ausente deste mundo. Só para dizer que este blog está a atingir os dois anos de vida. Para dizer ainda que finalmente terminei a história do Cisne Negro e que estou na fase da revisão das 216 páginas que já são 226 ao fim de 3 capítulos revistos. Não sei se acabarei ainda este ano. Tem sido complicado. Só tenho a agradecer a quem me tem dado motivação para seguir este sonho. Obrigado à Angel pelo toque sentimental das cartas, obrigado à Silvia nas traduções para norueguês e um agradecimento especial o à minha futura psicologa! Grazie pela força que me dás sem saberes. E grazie pelo video, desconhecia a música dos Poets of the Fall.
Aqui vão uns novos excertos de capítulos que postei aqui há 23 meses e alguns dias.
- Vinde Cisne Negro, mostrar-vos-ei o vosso caminho, a vossa rota. Sofrer não significará a vossa derrota. Precisamos de vós para comandar esta frota!
Foi pelo canto do olho que a bebé defrontou aquela figura que lhe fora sempre fraterna. As suas lágrimas recuaram como uma vaga a regressar ao mar. Pararia de chorar sem dar conta. Bastou que Mar-Hir falasse para que se sentisse serena e segura de uma forma tão definitiva, coisa que nem a sua própria mãe o teria conseguido, pelo menos naquele momento.
- Yhdistä moi dät...! – soltara a voz feiticeira do Ancião.
A Cisne acabou por aceitar, ainda que timidamente, a mão do seu avô. Por alguma estranha razão a bebé embarcaria sem sequer olhar para trás. Encontrava-se entre a rejeição forçada dos seus pais e as promessas incandescentes de Mar-Hir.
- Levar-te-ei ao Templo dos Sonhos… onde sonhamos acordados! – declarava o auspicioso Pontífice já na proa da embarcação que acabava de zarpar.
Tal árvore… tal fruto. Quarenta dias passaram desde o segundo aniversário da Cisne Negro. Por esta altura tais olhos pardacentos estavam muito mais afastados do solo. Era uma árvore que olhava para cima, perdida de amores pelo deslumbrante Grande Cristal.
Portanto não era nenhum encantamento, nenhuma ilusão ou miragem se assistíssemos ao caminhar da jovem árvore, pois estava livre de raízes. E todos aqueles que a admiravam esperariam certamente que pudesse vir a proporcionar frutos suculentos pelo trilho que enveredava há ano e meio, no Templo da Luz, um lugar privilegiado de manifestação do imaginário.Aí residia, de facto, a ironia romântica da árvore que fora arrancada de uma ilha e enraizada de novo no cume de uma montanha que chegava a roçar o céu líquido de tão elevada que era.
Escutava-se, para lá da porta, o ruído incisivo de uma tesoura. Eram os delicados dedos da risonha Dasrae que seguravam tal instrumento. Estava a cortar o cabelo à petiza enquanto entoava uma pequena canção.

“As nossas sombras uniram-se
No dia em que o Grande Cristal adormeceu
Chorámos alegrias e rimos tristezas para o céu

Uma infinidade de estados de luz propaga-se
Naquele que é agora o teu lar
Que nada te faça olvidar

De que não estás só pois conheço-te cegamente
Mesmo que a distância esteja por perto
Terás sempre o meu amor por completo

Que a dúvida não te persiga desesperadamente
Cuida bem do teu jardim pois até o solo mais estéril
Será novamente semeado”

Um inadvertido bocejo soltou-se da boca da Cisne. Nem se lhe ouviu um elogio que fosse para a sua ama que acabara de lhe dedicar uma trova.

Poets of the Fall - Carnival of Rust


A Perfect Circle - The Outsider (live)