quarta-feira, agosto 30, 2006

A dor da despedida prematura (parte 1)


Mariah já vinha sofrendo por antecipação mesmo antes do nascimento do Cisne Negro. Talvez por isso o parto tenha sido tão complicado. Nunca escondera a consternação e austeridade a partir do momento em que Mar-Hir lhe comunicara tais premonições.
- Seja bem-vindo Pontífice!
Sem demoras, Har-Meand aproximou-se para cumprimentá-lo com uma cerimoniosa vénia.
O Ancião do Cristal retribuiu com um leve aceno, quedando-se à entrada. A sua análise fora instantânea. Perscrutou a disponibilidade de Har-Meand, a perplexidade da sua esposa e o sorriso bastante forçado do Cisne Negro, sentada no banco. A bebé que costumava correr para os seus braços tendo-o como um avó, desta vez não conseguia encará-lo. Mar-Hir leu o medo na sua mente, sentia-se encurralada.
- Dar-vos-ei o tempo que precisarem. – pigarreou. - Estarei lá fora. - comunicara num tom de voz mais sisudo não querendo parecer demasiado abusivo.
Afinal de contas encontrara-os ainda com as suas vestes de dormir. Teria chegado cedo demais? Certamente era visto como um homem impiedoso. Ele próprio tinha plena consciência que, de uma forma ou de outra, estaria a encarnar um ser sem escrúpulos. Contudo, à luz dos seus olhos claros não lhe era apresentada outra alternativa viável. Agia como um eterno servo da sua clarividência.
Em passos lentos regressou ao exterior daquela moradia típica da Ilha Cabassus. Eram rectangulares pintadas em tons pastel. A maioria era composta com anexos exteriores, alguns cobertos, outros a céu aberto como era o caso. Dali podia apreciar a vista desafogada para o mar que vibrava ali não muito distante dos seus pés firmes.
Asrae, uma senhora que agia com descrição, como era apanágio do Povo de Cristal, surgia a seu lado. Mar-Hir tinha pressentido a aproximação de tal luz arguta. A Sacerdotisa de cabelos de um loiro abatido e vestes cinzentas interrompia respeitosamente os pensamentos do seu Mestre. Serviu-se de um dos seus ensinamentos, a comunicação dor telepatia.
- Será prematuro levá-la aos oito meses para o Templo da Luz?
- Mais vale ser prematuro do que tardio. - respondia laconicamente usando o mesmo método psíquico.
- Sabeis que a dor da separação irá amedrontá-la. – murmurou Asrae sobre uma evidente consequência que o Pontífice já havia previsto.
Ambos estavam conscientes dos votos que juraram perante os Deuses do Mar: guiá-la na rota do seu destino, na mágoa e no sofrimento, na alegria e na glória. Se entre os dois Elementos da Luz subsistia aquela sensação introspectiva, lá dentro, na moradia dos Rinkinens, o ambiente era definido pela dor de uma despedida prematura.
Har-Meand, que acabara de vestir uma túnica de linho castanho costurada pela sua mulher, tentava apaziguar tal vinculada angústia.
- Visitá-la-emos de tempos em tempos…
- Não é a mesma coisa. Ela é muito nova, precisa de sentir o calor de uma mãe!
A sua agitação era natural para uma mãe que a teve na barriga por um ano e agora iria deixá-la aos cuidados de um velho que seria, na sua óptica, um louco.
- E de um pai…- retorquia o pintor pegando na mão da sua filha.
Mostrou-lhe o retrato que tinha delineado enquanto ela e sua mãe tinha estado dormir.
Mariah estava por detrás dele, junto ao guarda-fato. Tinha acabado de escolher um modesto vestido negro para receber tão ilustre visita.
- E porque não nos avisou que vinha hoje roubar-nos a nossa filha? - queixou-se deliberadamente num tom provocatório.
O seu marido olhou-a de relance sem dar muita importância a tal desaforo. Preferia aproveitar aquele momento de um modo pacífico. Sentara-se no banco com o Cisne Negro no seu colo.
- Acho que podes terminar aqui este contorno. Toma, o pai ajuda.
O Cisne Negro recebera um lápis de carvão e estaria a rabiscar ao acaso não estivesse a mão habilidosa de Har-Meand a dirigi-la no traçado do seu cabelo encaracolado, negro como o próprio carvão.
A bebé continuava em silêncio. Normalmente estaria a divertir-se a pintar durante um tempo indeterminado. Naquela ocasião demonstrava algum aborrecimento. O seu pai apercebera-se na sua pouca vontade. Sentia-a como uma luz frouxa, exactamente o período do dia em que tinha nascido.
- Ela não pode ir de estômago vazio. – indicou a mãe numa voz enfraquecida.
Àquela altura estava, finalmente, convencida de não poderia contrariar a sua partida. Desejava impedi-lo mas não se atreveria.
Har-Meand baixou os braços fazendo menção de se levantar com a sua filha quando Mariah lhe sugeriu que fosse ao encontro do Pontífice enquanto as duas iriam tomar o pequeno-almoço. Concordou, admitindo que aquele momento deveria ser aproveitado entre as duas.
- Mas primeiro tens que lavar as mãos… - pegou no lápis de carvão. - … e o rosto também! – gracejou ao sujar propositadamente o rosto da sua filha com carvão.
O Cisne Negro esboçou um sorriso efémero. Sentia que aquele seria o dia mais triste da sua vida. O primeiro dos muitos que se seguirão.

sábado, agosto 26, 2006

O Dia chegou... (parte 3)


Durante o silêncio clamoroso que se seguiu, Mariah inclinou o corpo, já refeito da gravidez, procurando saber qual o verdadeiro motivo da inércia do Cisne Negro. Era minimamente perceptível que estava acordada no entanto mais parecia que estava a dormir de olhos abertos. O rosto estava demasiado descorado, realçando ainda mais aquele aspecto sombrio.
A sua mãe é que não perdera tempo em tentar adivinhar, qual profetisa convicta de que poderia ler a mente da sua filha. Seria o tão falado instinto maternal a agir em desespero de causa.
- Ela sabe que vai embora… é injusto a nossa filha ser-nos retirada assim! Não está certo!- recalcitrou revoltando a colcha e lençóis de um rosa mais claro que a matiz afogueada da sua pele quando perdia o controlo emocional.
Har-Meand levantava-se movendo a cabeça negativamente considerando que Mariah estava a deixá-la ainda mais atemorizada. O pintor baseava-se numa condescendência em relação ao futuro da sua filha, o que não poderia ser traduzida pela falta de amor que nutria por ela. Amava-a até mais que a sua própria vida e no entanto era muito mais comedido que a sua mulher.
- Não existe justiça nem injustiça aqui. É o que tem que ser feito, é a vontade dos Deuses.
- É a vontade de Mar-Hir queres dizer! - resmungara Mariah elevando o tom da sua voz atirando uma almofada para o chão emadeirado.
De um momento para o outro o seu rosto empalidecera ao denotar que os seus gestos veementes afastaram a sua filha para o canto da cama. A mãe extremamente zelosa, mimava com afagos sucessivos nos cabelos encaracolados da sua mais-que-tudo.
- O Pontífice Mar-Hir acredita ser esse o seu karma e consequentemente o nosso. Sabes muito bem que tudo foi feito para impedir que ela nascesse durante a Luz Frouxa e…- Har-Meand voltara-se a sentar na cama junto ao Cisne Negro encarando-a. - … foi esse o seu destino! Temos que ser mais tolerantes. Acredito que a nossa filha terá um papel preponderante no futuro de Atlântida.
O Cisne Negro permanecia entregue à tal expressão vazia embora já não estivesse naquela posição contraída como se fosse uma tartaruga a esconder-se na sua carapaça. Levantou-se espontaneamente, tomando a direcção da janela. Subiu o banco redondo onde o seu pai se sentava para pintar e esgueirou-se para o exterior. O seu olhar fixava o horizonte marítimo. Era como se o mar a tivesse chamado pelo seu nome, o seu verdadeiro nome, não a alcunha que fora atribuída.
Mariah e Har-Meand fizeram menção de ir atrás dela pois corria o risco de cair mas o seu sinal fora para que se afastassem. Deixaram-na estar considerando que lhe fazia bem receber aquela fresca aragem matinal.
- Porque temos que seguir tudo o que Mar-Hir nos diz? Porque temos que seguir as suas ilusões, fantasias, sonhos?- contestava Mariah insistindo com aquela discussão mantendo a devida atenção na sua filha.
- Para travar esta realidade, guerra, pesadelo!- contrapôs Har-Meand.
No quarto ao lado estava Asrae, que ouvia a discussão sem ter como o evitar. Nem se atreveria a participar, pois o Povo do Cristal era conhecido por serem meros observadores e não intervenientes dos problemas alheios.
A tensão do Cisne Negro avistava a aproximação de um veleiro numa altura em que o seu pai criticava o seu próprio reino sem sentir pudor algum.
- Vivemos tempos conturbados, os dois reinos conspiram na escuridão…- tomou uma pausa reflectiva. - … a guerra pode eclodir a qualquer momento…!
Har-Meand não confiava na serenidade de Suas Majestades desde o nascimento da sua filha. O seu cepticismo aumentara aquando das suas visitas, principalmente naquele momento em teve que desenhar sobre a tela um retrato do Rei e da Rainha segurando a sua filha.
- Barvaatus pode ser tão maquiavélico como aquele que se senta no trono dos Margrietus. Quanto à Rainha Rinna não lhe perscruto nada, permanece na sua sombra.
Tais pensamentos revelados demonstravam o quanto Har-Meand não era adepto da função da realeza mas sim da religião.
Chocada, pelo seu marido ter cuspido todos aqueles disparates contra a corte, Mariah não se desviara do que estava em causa.
- Como Mar-Hir está tão seguro do futuro da nossa filha? Que premonição terá visto para crer que ela é a divina representação da paz… afinal de contas não sabemos nada!
Entretanto houve um vulto que apareceu junto à porta semi-aberta. Mariah apanhara um susto de coração. O Cisne Negro virava-se sabendo de antemão de quem se tratava. Não era a Sacerdotisa Asrae como os seus pais supunham.
- O futuro é imperceptível… mesmo para mim… - falou calmamente uma voz envelhecida pelo tempo.
Por detrás da porta aparecia um senhor alto de roupagens imaculadas e longo cabelo grisalho.
- Pontífice Mar-Hir…- Mariah engolira em seco
- Perdoai-me o aparecimento repentino mas… chegou o dia…
E instantaneamente Mariah sentiu uma pontada lancinante no peito como se tivessem a comer o seu coração à dentada.
(Próximo Capítulo: "A Dor da Despedida Prematura")

segunda-feira, agosto 21, 2006

O Dia chegou... (parte 2)


O célere veleiro tomava a direcção sudoeste. O destino é a ilha Cabassus, onde vivem os pais da Predestinada. Será hoje que os primeiros fios do seu karma serão tecidos. Iniciar-se-á no Templo da Luz com apenas oito meses. É fundamental habituar-se desde tenra idade a estar tão perto da Luminosidade Absoluta para que dê asas à perspicácia que já vai demonstrando.
O tão falado dia chegara antes do previsto. O fatalismo é inadiável.

Na ilha Cabassus
Um aprazível aroma de incenso fluía no quarto. Ambos os reinos praticavam os seus rituais de devoção e superstição. O arder incenso era um desses actos de fé próprios dos Rinkinens. Dizia-se que, acima de tudo, atraía o bom augúrio. Mal sabia Har-Meand que, ao acendê-lo, o efeito seria exactamente o oposto.
O alvor cristalino incidia sobre mãe e filha sempre inseparáveis. Har-Meand tinha puxado a cortina azul-turquesa e abrira a janela convidando a translucidez a entrar em sua casa. Uma moradia de artistas numa ilha maioritariamente povoada por artistas de diversas áreas.
O homem de rosto largo, queixo forte e cabelo negro bem aparado, moveu-se no silêncio para não perturbar aquele leito de tranquilidade em que a sua mulher e filha se encontravam.
Permanecera junto à janela, quando decidiu começar a rabiscar na sua tela. Sentara-se num banco redondo e de imediato começou a delinear os primeiros traços de mais um retrato.
Do outro lado do quarto estavam Mariah e o Cisne Negro bem aconchegadas numa cama exposta na horizontal. Era de madeira com insígnias atribuídas à linguagem rinkinen. As paredes brancas eram cobertas com alguns quadros com flores pintadas a óleo. A contrastar com esses quadros de tons pitorescos haviam outros dois mais significativos. Foram desenhados a carvão e estavam expostos na parede onde a cama estava encostada. Um mostrava o Cisne Negro deitada no berço manifestando a sua extrema boa disposição. O outro era nada mais que uma visão cómica, uma caricatura de Mariah com um corpo imperceptível, a não ser a sua barriga oval, e uma cabeça a ocupar quase todo o espaço da tela exibindo uns lábios exageradamente carnudos. Fora desenhado durante a gravidez de Mariah que durou doze meses.
Na verdade os lábios de Mariah eram finos, o seu rosto pálido facilmente enrubescido consoante as suas reacções emotivas, os seus cabelos não muito longos eram de coloração louro-acastanhada, os seus olhos verde-montanha eram uma perdição, tanto que ofuscavam as suas sobrancelhas pouco visíveis.
Após alguns minutos de gestos executados sobre a tela, a mão de Har-Meand parara repentinamente. Mariah finalmente mudara de posição ligeiramente atordoada com aquele luzir diáfano. Constatou que o Cisne Negro já estava acordado permanecendo imóvel, de olhos bem abertos. Nessa altura já Har-Meand tinha o esboço elaborado. Iria terminá-lo posteriormente. Aquele quadro serviria de estímulo quando a sua filha já não estivesse ali na sua companhia.
O pintor voltou para a cama puxando a colcha toldada por um rosa escuro. Desviou uma das almofadas com desenhos bordados pela sua mulher, para beijar a testa da sua filha que expressava um ar pleno de mistério.
- Então filha que tens? Tens frio? Tens fome?- perguntara deliberadamente a mãe ao afagar carinhosamente o braço da sua filha.
- Não… Ele vem aí…
A resposta saíra seca da boca do Cisne Negro que estava deitada de lado com o corpo encolhido. Teria mesmo respondido? Ainda era muito nova, ainda estava a começar a falar. Por vezes os seus pais tinham uma vaga sensação de que alguém falara por si. Pudera, o seu crescimento estava a efectuar-se de um forma estonteante, deixando-os à deriva num mar de espanto.
- Ainda deve estar ensonada…- considerou Har-Meand, afastando-se um pouco para lhe dar espaço.

quinta-feira, agosto 17, 2006

O Dia chegou... (parte 1)

O vento trazia de bom grado o som do sino dos anjos da Basílica Anjira. Escutei doze badaladas criando fugazes vibrações no veleiro onde me encontrava. O tempo decorria na sua inevitabilidade, até mesmo para este ancião que já não se recorda ao certo da sua idade…
Não forçarei a minha mente a esse raciocínio, há assuntos mais proeminentes em causa. Não posso descurar da minha missão: proteger o Cisne Negro, indicando-lhe quais os caminhos da Luz e os da Sombra. Chegará uma altura em que ela tomará as suas opções para o bem ou para o mal.
O tempo urge… oito meses passaram desde o seu nascimento. E, naturalmente, crescera bastante após aquele dia tão invulgar. Fora o mesmo tempo que a tornara numa menina traquina. Exibia um sorriso inocente dando a conhecer os seus recém-nascidos dentes. As maçãs do seu rosto estavam permanentemente ruborizadas, os seus olhos eram, na mais surrealista das naturezas, toldados de um sombrio azul-cinza característicos dos Rinkinens e os seus cabelos negros caíam aos caracóis. Um anjo rebelde, sé é que ainda existiam anjos.
Rapidamente aprendera a caminhar por si própria, de tão endiabrada que era, desejando ver o mundo de um ponto mais alto. Prestava-lhe visitas semanais e pude constatar a sua evolução.
- Esta criança não pára de nos surpreender…- acocorava-me para receber a “iluminada pelo divino” nos meus braços. - Chaere!
Compadeci-me quando a encontrei não a passear-se mas a correr pelo pátio da sua casa atrás dos seus amigos, os cisnes.
Era uma criança dotada de uma energia infindável, convidando a sua mãe e Asrae, a sua futura ama, a uma atenção redobrada.
Foi uma questão de dias até nos brindar com mais uma magnifica surpresa, quando, na sua curiosidade estimulada, começou a pronunciar as primeiras palavras. A primeira que proferiu foi “asas”, referenciando-se às soberbas asas dos seus cisnes maioritariamente de plumagem negra. A partir de então não mais parou. Rapidamente pegara em palavras que assimilara e formava frases como “Voa cisne, abre as asas!”- bracejava tentando imitá-los. “Tenho fome mamã” e “vamos pintar papá” eram outras expressões que se tornaram habituais.
Apenas com oito meses… era natural que o espanto e incerteza sobre tal criança ainda não se tinham arrefecido. Há duas semanas que o Cisne Negro frequentava o Templo da Iniciação, onde se aprende as noções primárias do conhecimento atlante. Fora necessário abrir uma excepção pois a idade mínima aceitável para ingressar em tal Templo primário era de três anos e a sua curta existência ainda não era contada por anos.
- Nunca tinha visto uma criança com uma aprendizagem tão precoce…! - comentava o abismado Heafadt, Sumo-Sacerdote daquele Templo.
- É uma espalha-brasas, é o que é!- regozijei informalmente.
No entanto não trespassava a comiseração que sentia, não só pela responsabilidade que ela irá carregar mas também pelos seus pais. Intensificara-se o tormento de Mariah tão apegada à sua filha. Sabia que estava prestes a deixá-la partir, mesmo contra a sua vontade. A sua inconformidade não se desvanecia nem com o cansaço nem com o bom senso de Har-Meand…

terça-feira, agosto 15, 2006

Personagens de "Lost-Keys: The Black Swan"


Rinkinen (Reino do Norte de Atlântida)
Cisne Negro (a bebé que nasceu durante a “Luz Frouxa” do Grande Cristal); Caliel (discípulo do Templo da Natureza); Mariah (Mãe do Cisne Negro); Har-Meand (Pai do Cisne Negro); Barvaatus (Rei); Rinna (Rainha); Equam (Guerreiro); Kristellya (?)

Margrietus (Reino do Sul de Atlântida)
Mirthis
(Princesa); Tireu (Guerreiro); Rhanos (amigo de infância do Cisne Negro); Litharn (Rei); Heidei (Rainha); Viderya (Sereia); Perthyan (Príncipe); Harturus (?)

Povo do Cristal:
Ancião Mar-Hir (Pontífice, “avô” do Cisne Negro); Asrae (Sacerdotisa do Templo da Luz, ama do Cisne Negro) Adelius (?)

sexta-feira, agosto 11, 2006

Entre o Profano e o Sagrado (parte 2)

Deixei o Cisne Negro por ora. Seria imperativo ausentar-me para sossego dos seus pais, Mariah e Har-Meand. Estavam informados de que quando menos esperassem iria privar-lhes do que de mais precioso o seu amor lhes tinha proporcionado. Teria preferido não o fazer se me fosse facultada tal opção. Mas a esta criança estavam destinados grandes feitos. Precisava de prepará-la desde tenra idade. Por enquanto ainda poderia brincar inocentemente na companhia dos seus progenitores sem imaginar a vida árdua e disciplinada que a esperava.
Regressei ao cume da montanha mais alta de Atlântida. Aí estava situada a Grande Pirâmide, aquela que sustinha o Grande Cristal, o sol dos atlantes. Isso explica porque não havia noite, a luz giratória do Grande Cristal iluminava toda a extensão desta terra. A única indicação do findar do dia era a apelidada falsa noite, quando a intensidade da luz cristalina diminuía gradualmente.
Era precisamente essa claridade diminuta que se abatia agora no quinto e último dia da celebração do seu nascimento. As festividades tinham terminado na cidade Poseidonis, bem no coração de Atlântida.
O povo recolhia às suas casas. Uns ainda cochichavam, por detrás da luz minguante, sobre aquele extraordinário acontecimento. Por certo alguns achariam que tal bebé, por ter nascido nas horas frouxas estaria realmente condenado e a sua vida seria um autêntico inferno. Conseguia perscrutar tais pensamentos apenas com um ligeiro olhar direccionado aos rostos daqueles que pressentiam o medo. Poderiam pressenti-lo mas por outras razões. Sei muito bem que alguns a viam como um bode expiatório resultante de um conflito já de si evidente entre os dois reinos.
E nem toda a realeza, principalmente os Margrietus, via com bons olhos toda aquela importância, como se tivesse nascido uma Princesa, herdeira ao trono dos Rinkinens. Afinal de contas tratava-se apenas de uma mera plebeia Rinkinen.
Daí que mantivesse a minha máxima protecção mesmo não estando presente a tempo inteiro. A acompanhar o Cisne Negro e os seus pais, estava um enviado meu do Templo da Luz. Era Asrae, uma Sacerdotisa da Luz. Digamos que era a minha valiosa cartada para que os dois reinos olhassem primeiro para o seu jogo a ponto de reflectirem sobre que jogada iriam efectuar a seguir. Estariam dispostos a desafiar este velho?
Os quatro pernoitaram no Templo da Maternidade e aí permaneceram por mais dois dias, até a mãe estar completamente restabelecida. Em breve iria recebê-la sob a luz deste Santuário. As marés mudam constantemente. O tempo mudará também quando o Cisne Negro abrir as suas asas.

(Próximo Capítulo: o dia chegou…)

segunda-feira, agosto 07, 2006

Entre o Profano e o Sagrado (parte 1)


“Caminho nos meandros da Luz, o local mais sagrado de Atlântida. Aquele que divide os dois reinos existentes, os Margrietus dos Rinkinens.
Como deveis calcular a cobiça pelo poder de uma terra onde coabitam dois povos pode ser fatal para o futuro deste mundo.
Como Sumo-Sacerdote o meu dever é pacificar os ânimos, sensibilizar as duas facções da nobreza em particular e do povo em geral.
Represento o Povo do Cristal, o meu nome é Mar-Hir. Garanto-vos que sou velho o suficiente para tropeçar na minha barba e desequilibrar-me. Essa foi uma visão que já tive outrora e que se concretizou uma semana depois. Chamam-me de Profeta por possuir uma natural clarividência. Tão natural como a minha barba. Tinha um dom de adivinhar pensamentos, segredos e até acontecimentos vindouros.
Mas nem sempre o futuro era tão claro como água. Nem sempre conseguia discerni-lo correctamente. E naquela altura o futuro parecia estar comprometido com a Escuridão. O negrume cercava as minhas visões. A incerteza assolava o meu espírito.
Durante um certo período mantive-me em cativeiro no Templo da Luz numa profunda meditação. Estava convicto de que os soberanos de cada reino poderiam aproveitar a minha ausência para difundirem as suas movimentações conspiratórias. A guerra já tinha começado muito antes de eles se terem dado conta.
Rezava aos Deuses pedindo-lhes que me mostrassem um sinal de esperança para a desgraça que se avizinhava.
Uma mãe gritava horrorosamente, dando à luz algures, durante a luz diminuta do Grande Cristal. Por mais esforços que tivessem feito para evitar tal heresia, o bebé iria nascer precisamente nessa altura. Seria a primeira vez que tal aconteceria. Indubitavelmente esse bebé e seus pais seriam condenados pela sociedade.
As visões mostravam-me o contrário. Era uma menina abençoada, uma plebeia, filha de plebeus. E para o bem ou para o mal, o futuro de Atlântida estaria nas suas mãos.
O seu nome fora protegido por uma alcunha: O Cisne Negro, ideia do seu pai. Encarreguei-me de tutelar a criança que antes de nascer já teria um fardo demasiado pesado para carregar. O seu nascimento fora seguido segundo o protocolo real, um pedido que direccionei aos dois reinos numa assembleia extraordinária.
Foi perante a estátua do Grande Deus Poseidon que me responsabilizei pelo nascimento desta criança, ao invés de decidir pelo seu aborto. Certa ou errada, foi essa a escolha que fiz. Quis prepará-la logo desde o seu primeiro dia de vida.
Numa era onde a discórdia era facilmente atiçada apenas pela força do pensamento, previa que os olhares traiçoeiros dos Reis iriam disputar tal criança. Almejariam transformá-la numa escrava do mal e assim subjugar um povo ao outro.
A guerra já se tinha instalado. Apenas permanecia silenciosa”.

sábado, agosto 05, 2006

The Black Swan: Myth or Reality?


The tradition said that whenever there was a royal birth the festivities would last five days. And for the record, the Black Swan wasn’t from the royalty; she descended from the common people. Her birth shouldn’t be so extraordinary to be celebrated during five long and cheerful days. But how everyone, even now, knows her as one of the Greatest Princesses of the north’s breed and no one knows her real name? Was she favored by the Gods even if she was born in the weak state of the Great Crystal? All the births in Atlantis are controlled to occur during daylight don’t ask me why. Many facts are vague, imprecise, some of them are lost.
It’s known that in a remote time, there were two kingdoms coexisting in Atlantis. The Rinkinens were the one of the north, and the one of the south were the Margrietus. There still was an independent religious tribe, the Crystal People who protected the Great Crystal, the Sun of that hidden land.
Presently there is only one united kingdom, and that restrict group of high-priests. They live in the Temple of Light near the Pyramid of the Great Crystal. Only they have the keys to the secrets of Atlantis. They are the ones who guard all the doors, all the locks, all the books, all the testimonials written about the History of this land.
There is a collection of ancient books named The Lost Keys. Very few have access to its confidential information, only the Pontiff Mar-Hir and his five closest priests have that privilege. Even the Kings don’t have any kind of permission to take a look. Some more curious have used the force and tried to steal them but each and every one of them have failed. We’re talking about a restrained group of priests who knows different arts of magic. They can do things that no one dreamed of.
Now, the Pontiff Mar-Hir will tell us one of those stories. He chose the ancient language of the Rinkinens to enlighten us about the mystery of the Black Swan, a nickname that endures until now. She was the one who unified all the habitants in one kingdom yet no one knows her real name. And her name was…

quarta-feira, agosto 02, 2006

The birth of the black swan

There was a lot of fuss in the false night in Atlantis. Everyone was talking about the birth of a child. They were saying that she was cursed by their Gods just because no one gives birth when the lights of Great Crystal are weak and low. They say it’s a bad omen. We all know how people can be easily influenced by religion. And they obfuscated ideas.
Well, perhaps she was blessed by the Gods from the distant land where their parents came from.
People were gathering around when her aunt started a song. And from the beginning their faces were shocked as they couldn’t understand the Rinkinen’s tongue.
There was someone who had to translate her mysterious and haunted words, an old man in the crowd. It was something like this:

“In the weak florescence a baby girl was born.
She’s beautiful! She has no name other than
A nickname given by her father: “the black swan”

Her parents are very delighted and compromised
We feel that this frozen wind is trying to paralyze
The celebration of life but nothing can distract us
From the light that shines between all the roses

Since her first cry she has to deal
With the fate of a vampire
Our Majesties already admired
Her grace, she has strength and will

She has the pale resemblance
That she earn from her parents
Her mother is already making plans
Soon she will walk and dance

But for now…
We will guard your cradle, you can sleep
And dream about the wonders of the deep”