sexta-feira, dezembro 15, 2006

As Raízes da Promessa (parte 1)

O Cisne Negro estava sentada num banco de madeira no jardim que embelezava a Praça da Deusa Anfitrite. Àquela altura já não se deixava deslumbrar tanto pela paisagem bucólica existente ao redor daquela estância.
Aos cinco anos era uma menina que se refugiava em pensamentos demorados junto da mais importante divindade feminina de Atlântida. Sentia-se impelida a fazê-lo embora não tivesse sido enfeitiçada pela religião. Era como se Anfitrite a chamasse e a obrigasse a falar tudo o que lhe ia na alma sem preconceitos.
Os últimos três anos tinham sido demasiado pacatos. Sentira-se como um peixe fora de água. Não se enquadrava de todo naquele meio eclesiástico. Não conseguia relacionar-se com ninguém. Foi o que dissera à Deusa assumindo que estava a desrespeitá-la dalguma forma.
Logo no dia seguinte, por mera causalidade, tinha lhe sido concedida alguma liberdade para que não se sentisse tão deslocada. Poderia passear livremente por toda aquela área. Tinha o aval de Mar-Hir. Desconhecia porque motivo teria permitido tal revelia. Teria sido uma intervenção divina? Teria sido Anfitrite?
A criança viu serem alargadas as suas fronteiras, ainda que houvesse alguns locais intransitáveis. Mas tudo aquilo não lhe chegava. Não era somente o local que a restringia, era principalmente o secretismo daquele povo, eram todos muito fechados, demasiado introspectivos. Não deixava de ter a sua ironia, era cada um por si e no entanto eram unidos.
A Rinkinen recordava-se da conversa que tivera com o seu avô:
- Há pessoas que me olham demoradamente mas não me falam. Por que motivo olham tanto para mim, terei alguma coisa de errado? – questionou com aqueles olhos estonteantes, qual mar bravio que se revoltava à procura de tranquilidade.
- Olham-vos num misto de admiração e condenação. Lembrai-vos, fostes a primeira bebé a nascer durante a Luz Frouxa. – recordou numa clara espontaneidade.
Jamais o Pontífice lhe omitiria a condição especial que a distinguia de qualquer outro atlante. Iria informá-la, sempre que necessário, do plano que tinha reservado para si. Não era de se silenciar como muitos do Povo que tutelava.
- Não faças essa cara. Não tem que ser necessariamente ruim nascer durante a fase menos luminosa do dia. Não te deixes condicionar pelo que as pessoas te dizem ou simplesmente pelo modo severo como te olham. Não lhes cabe julgar os mistérios da vida. – serenou-a colocando a mão por cima do ombro da sua neta para lhe livrar do ambiente intimidante em que se encontrara. - Daqui a uns dias levar-te-ei até Cabassus, visitarás os teus pais. – anunciou com alguma reserva.
Nem Mar-Hir, que contava com uma idade avançada e uma inestimável experiência acumulada, sabia muito bem como a tratar. Ora como uma simples menina que protegia carinhosamente, ora como uma reverência atribuída a uma pessoa de um grau de importância elevado, uma pequena senhora. A forma indefinível como se dirigia à Rinkinen explicava-se pelo facto de estar a lutar contra o futuro. Sabia o que lhe estava destinado pois assim o tinha previsto. Apenas não sabia qual o momento em que a balança iria pender mais para o lado de Instrutor da Luz rígido e implacável do que propriamente para seu avô carinhoso, que a enchia de mimos.
Regressada dos seus pensamentos viscerais, a filha de Cabassus afagou um dos seus inseparáveis cisnes. A família tinha aumentado entretanto. Eram agora dezasseis, onze negros, cinco brancos. Tinham acabado de debicar sementes das suas mãos. Um hábito que a sua querida mãe lhe tinha ensinado.
O bando dirigiu-se até ao pequeno lago Inélun, para junto dos seus ninhos. Alguns ainda mergulharam o seu longo pescoço para mordiscar as plantas subaquáticas ficando apenas com a cauda à superfície. Ao menos desfrutavam daquele habitat natural ao ponto de rejubilarem à sua frente. Nem sempre se compadeciam com o estado de espírito da sua tratadora.
Distraiu-se com o movimento colectivo de Iniciados e uma Sacerdotisa a comandá-los ordeiramente. Era Asrae. Distinguia-a ao longe pelos seus cabelos loiros claros que contrastava com a sua indumentária cinzenta. Àquela idade dispensava a atenção permanente da sua Ama. Contudo seguiu no seu encalço apenas para perguntar pelo paradeiro do seu avô.
- Não está, foi meditar junto de Galieas Sirthion.
- E quem é? É a sua mulher?
- Não sua tonta, Galieas Sirthion é a Grande Árvore da Vida.
A Sacerdotisa sorriu abusivamente antes de lhe explicar perante aquelas seis crianças já suficientemente crescidas para saberem que Galieas Sirthion não era uma pessoa mas sim o ex-libris da natureza atlante.
- É a Mãe de toda a Natureza que nos rodeia. Pensei que o Pontífice te tivesse levado lá, ao Monte Atlas. Bem, sempre podes olhar a nordeste e contemplar a nossa Mãe no horizonte.
O seu olhar virou-se para a direcção indicada pela Sacerdotisa. Avistou a Magna Árvore com amuo pois o seu avô não lhe tinha feito tal convite. Desejaria muito conhecê-la. Deveria ser gigantesca para ser vislumbrada dali.
Apesar de ainda ser muito nova para seguir o Princípio Templário, a sua ama convidou-a a juntar-se àquele de grupo de iniciados até à Grande Biblioteca.
Mais uma vez a Rinkinen recusou o convite. Era uma criança bastante contraditória. Não desejava ser preterida e no entanto desperdiçava todas as oportunidades para deixar de o ser. Tal atitude já vinha de trás, desde que tomara conhecimento dos comportamentos distanciados do Povo do Cristal. E tal distância nunca fora suprimida. E pelos vistos não seria ela a dar o braço a torcer.
- Então se entretanto encontrares Adelius diz-lhe onde estamos. – requereu a Sacerdotisa antes de se encaminhar para o Templo, juntamente com os seus discípulos.

4 comentários:

estrela disse...

Ho, Ho, Ho, !!!!!!!!!!!!
* . * . + . * )," ( . * . + * . +. + . * . + . * + . * . * . * .
...........{_}
......... /.................._/_
........ /.................*>,“<
....... /_____......*Que Uma Estrela Cadente
.... {`______`}....* , + *
....././..o....o..\........_/_
...(....(__O__)...).......>,”< Ilumine o teu Caminho
...{.........u....`-“}..+ *
... {..................}......*,+*.._/_ * + . * Nesse
.... /{..............}.........*,..>,”< + * * + Natal
... /....“............“......*........*
.. /_/......`“`.....\_..* + ., * * , +*
..{__}##[ ]##{__}
..(_/\|\_/_)..FELIZ NATAL!
.......|___|___|........+ * , . * * , . * +
...........|--|--|.......+,*+..*
........(__)`(__)\
¤°.¸¸.•´¯`**'¤°.¸¸.•´¯`*¤°.¸¸.•´¯`**'¤°.¸¸.•´

A Professorinha disse...

A pequena Rinkinen precisa de mais espaço para se desenvolver. Sente-se presa... Quero mesmo ver o que acontece quando ela for visitar os pais.

Fica bem :)

Anónimo disse...

Olá Luigi...
Sempre bom estar aqui e lendo seus textos
agradeço aos seu comentarios tão carinhosos ...
bjos
SEDA

Anónimo disse...

Boas Luigi!

Não cheguei a ler este post já que não venho à imenso tempo à Net com tempo para ver que blog seja.
Por isso terei que retroceder no blog para ler os capitulos anteriores.

Já vi que tens-lhe dado bem,
Continua!!