terça-feira, janeiro 02, 2007

As Raízes da Promessa (parte 2)

(E a história continua... Vou postando menos mas estou cada vez mais empenhado em terminá-la. Novidades no argumento: O Cisne Negro vai ganhar uma irmã. Aceitam-se sugestões para nomes inventados a partir do nome Patrícia. Podem ler um diálogo de uma parte avançada da história no meu outro blog.)
Deixou-se ficar sozinha mais uma vez. Desta feita não podia culpar ninguém a não ser a si própria. Permaneceu estática olhando para si própria, imaginando como poderia ser filha de uma árvore. Segundo Asrae, Galieas Sirthion era a Mãe de todos os atlantes. Mas como tinha nascido dela? Onde estavam as suas raízes, os seus galhos, as suas folhas? Teriam sido retirados à nascença pela sua mãe Marjah? Então e os cisnes, eram eles que voavam até ao cimo do Monte Atlas e entregavam os bebés às mães atlantes como ouvira dizer?
- Muitas questões e ninguém para as responder. Oh não faz mal, daqui a uns meses saberei como nascem os bebés. – atirou um suspiro contra a brisa que movia casualmente os seus caracóis negros. - O avô por mais ocupado que esteja vai ter que me levar a Cabassus!
Apesar de nova, o Cisne tinha plena consciência de que Mar-Hir tentava estar em todo o lado ao mesmo tempo. Agia como se fosse um Semi-Deus, o braço esquerdo do Deus Poseidon, isto porque o direito é aquele que segura firmemente o Tridente da Justiça. Afinal de contas sempre tinha estudado alguma coisa acerca dos Deuses do Mar. Era impensável ignorá-los, no entanto o egocentrismo da Rinkinen era mais caprichoso que a adoração a tais invisíveis seres superiores. Não passavam de estátuas, não sentiam como ela sentia. Se o seu avô estivesse ali agora teria certamente lido os seus pensamentos e teria condenado tal heresia.
- Venho para aqui para ficar sozinha? Porque nunca me leva consigo nas suas viagens? Será que se vai lembrar do que me prometera? – resmungou na direcção de Galieas Sirthion.
Como poderia sequer duvidar da sua palavra quando o Pontífice sempre lhe fora honesto? Abanou a cabeça, farta daquele marasmo, farta de esperar.
Foi como uma pequena grande senhora bem comportada que decidiu levantar-se lançando uma vénia à Deusa-Mãe, lançando-lhe um agradecimento sem saber ao certo porque o fazia.
Quis fazer qualquer coisa de útil, o quê? – perguntou depois de se ter despedido dos seus cisnes que continuavam no pequeno lago distraídos coçando as suas penas. Houve apenas um que quis acompanhá-la.
- Não me sigas… Vai ter com os outros. – pediu a Rinkinen virando-lhes as costas dirigindo-se para o Templo.
Vindo do limite meridional da montanha, para lá do lago Inélun, o mais recente iniciado da Ordem Cristalina interceptara o Cisne Negro no átrio do Templo. Chamava-se Adelius, um curioso jovem das sardas e olhos negros.
- Estás sozinha hoje? - perguntou fitando-a num espanto subtil.
- Sim estou… - respondeu tentando disfarçar o seu incontestável constrangimento.
Nem havia motivo para tal, pois Adelius era dos poucos que não a olhavam como a estranha. Era o seu amigo mais próximo, apesar de ter o dobro da sua idade. Era também sobrinho da sua ama, logo costumava encontrá-lo muitas vezes.
- A tua tia disse que te esperava na Grande Biblioteca.
As duas crianças aproximaram-se da fachada principal formada por um grande pórtico com tímpano, vigiado por dois hirtos sentinelas que mais pareciam duas figuras de pedra.
- Disse? Mas ela sabe que tenho agora aulas de canto no Coro da Basílica Anjira. Queres vir comigo? Podes cantar connosco. – indagou num tom bem disposto.
- Ca-cantar, eu? – gaguejou. - Hoje não. Talvez noutro dia. – respondera assumindo uma expressão de aborrecimento.
A Rinkinen procurava desfazer-se do sentimento de abandono que a fragilizava. Tinha ficado agradada com a proposta do seu amigo mas naquele momento não estava com a voz suficientemente afinada, consequência do seu prolongado silêncio.
- Então porquê? Eu sei que cantas bem!
- Como sabes se nunca me ouviste cantar? – indagou de sobrolho franzido certificando-se que os sentinelas não estavam a ouvir a conversa.
- Pois não, mas se dizes que a tua mãe tem um canto maravilhoso, tu também deves ter. – elogiou o sobrinho de Asrae baseando-se numa avaliação hereditária.
Sem que Adelius pudesse prever, o Cisne Negro fugiu para o interior do Templo de cabeça baixa de modo a que os guardiães não reparassem nas suas lágrimas a rolarem-se-lhe pelo rosto.
- O que foi que disse de errado?
O Iniciado da Luz ficou estupidificado, não percebendo aquela sua reacção intempestiva. Não quis acreditar na conotação que lhe atribuíam nas suas costas. Era apenas uma criança, assim como ele. Tinha pensado segui-la todavia a meio do caminho mudou de ideias, exactamente quando observou-a a virar para o atelier, um espaço dedicado às ocupações das crianças.
O Cisne Negro teria recolhido à solidão do seu quarto que tanto a martirizava. Contudo preferiu antes estar só mas acompanhada, ou seja não comunicava com as outras crianças que se sentavam em enormes mesas coladas umas às outras. Algumas pintavam, outras escreviam, ou liam. Haviam outras que jogavam jogos didácticos como quebra-cabeças ou adivinhas num burburinho que por vezes incomodava a concentração dos restantes.
A filha de Cabassus ficou sentada numa ponta servindo-se da plasticina que Mar-Hir lhe tinha oferecido. Era um óptimo exercício para descontrair. Os seus dedos estavam a moldar figuras disformes misturando várias cores sem haver muita coerência. Não sabia ao certo o que estava a criar, nem estava com paciência suficiente para fazer algo mais elaborado.
- Já viste o que a Estranha está a fazer? – comentou uma rapariga para aquela que estava ao seu lado.
A Rinkinen reparou que estavam a troçar de si mas não quis dar muita importância. Foi precisamente após a risada das duas raparigas que observavam a sua falta de inspiração que se lembrara do que poderia fazer com a plasticina.
- É isso mesmo!- exclamou numa toada sonora sem notar que tinha chamado a atenção de quase todos os que estavam ali presentes.

6 comentários:

Isabel disse...

Saudades meu amigo, saudades tinha eu de te ler, de vir aqui, de escrever tambem.
Estive ausente.
Consumida pelo cansaço.
Lutei com ele e estou de volta.
Tambem estiveste ausente eu sei e por isso te dou as boas vindas.

Tenho estado aqui a ler-te e a deixar-me levar pelo encanto de tudo o que escreves.

Estou a chorar desta vez. A tua sensibilidade e o tremendo valor literário do que escreves comovem-me.

Ainda bem que regressei e tu tambem.

( uma pergunta, porquê escritora supersónica? )

Ate breve.

Isabel

Cherry Blossom Girl disse...

Amigo:
Um 2007 repleto de magia e sonho.
Beijinho gd
***

Pierrot disse...

Já tinha saudades de por aqui deambular, neste teu livro de encantar.
Abraço daqui e feliz 2007.
Eugénio

estrela disse...

°°°°°°°°°°°°| Naveguei até aqui
°°°°°°°°°°°°|_
°°°°°°°°°°°°|__ Para desejar
°°°°°°°°°°°°|___
°°°°°°°°°°°°|____°°°°°° Um linda semana!
°°°°°°°°°°°°|_____°°°°°°
°°°°°°°°°°°°|______°°°°°° Beijos
°°°°°°______|___ESTRELA___
~~~~____________________/~~~
Bom Ano!!

delusions disse...

Um bom ano para ti.
Adorei mais este capítulo está muito interessante...Sempre a despertar a curiosidade para o próximo :)
Então estamos à espera!

Bjinhos*

kolm disse...

Num pequeno intervalo que encontrei no pouco tempo que tenho, aproveito para visitar aqueles... "os das histórias encantadas" que fazem parte do abismo...

Um sorriso “tão” grande para ti

p.s. Ainda não li. Fiz bookmark para quando os tempos levantarem...