sábado, agosto 26, 2006

O Dia chegou... (parte 3)


Durante o silêncio clamoroso que se seguiu, Mariah inclinou o corpo, já refeito da gravidez, procurando saber qual o verdadeiro motivo da inércia do Cisne Negro. Era minimamente perceptível que estava acordada no entanto mais parecia que estava a dormir de olhos abertos. O rosto estava demasiado descorado, realçando ainda mais aquele aspecto sombrio.
A sua mãe é que não perdera tempo em tentar adivinhar, qual profetisa convicta de que poderia ler a mente da sua filha. Seria o tão falado instinto maternal a agir em desespero de causa.
- Ela sabe que vai embora… é injusto a nossa filha ser-nos retirada assim! Não está certo!- recalcitrou revoltando a colcha e lençóis de um rosa mais claro que a matiz afogueada da sua pele quando perdia o controlo emocional.
Har-Meand levantava-se movendo a cabeça negativamente considerando que Mariah estava a deixá-la ainda mais atemorizada. O pintor baseava-se numa condescendência em relação ao futuro da sua filha, o que não poderia ser traduzida pela falta de amor que nutria por ela. Amava-a até mais que a sua própria vida e no entanto era muito mais comedido que a sua mulher.
- Não existe justiça nem injustiça aqui. É o que tem que ser feito, é a vontade dos Deuses.
- É a vontade de Mar-Hir queres dizer! - resmungara Mariah elevando o tom da sua voz atirando uma almofada para o chão emadeirado.
De um momento para o outro o seu rosto empalidecera ao denotar que os seus gestos veementes afastaram a sua filha para o canto da cama. A mãe extremamente zelosa, mimava com afagos sucessivos nos cabelos encaracolados da sua mais-que-tudo.
- O Pontífice Mar-Hir acredita ser esse o seu karma e consequentemente o nosso. Sabes muito bem que tudo foi feito para impedir que ela nascesse durante a Luz Frouxa e…- Har-Meand voltara-se a sentar na cama junto ao Cisne Negro encarando-a. - … foi esse o seu destino! Temos que ser mais tolerantes. Acredito que a nossa filha terá um papel preponderante no futuro de Atlântida.
O Cisne Negro permanecia entregue à tal expressão vazia embora já não estivesse naquela posição contraída como se fosse uma tartaruga a esconder-se na sua carapaça. Levantou-se espontaneamente, tomando a direcção da janela. Subiu o banco redondo onde o seu pai se sentava para pintar e esgueirou-se para o exterior. O seu olhar fixava o horizonte marítimo. Era como se o mar a tivesse chamado pelo seu nome, o seu verdadeiro nome, não a alcunha que fora atribuída.
Mariah e Har-Meand fizeram menção de ir atrás dela pois corria o risco de cair mas o seu sinal fora para que se afastassem. Deixaram-na estar considerando que lhe fazia bem receber aquela fresca aragem matinal.
- Porque temos que seguir tudo o que Mar-Hir nos diz? Porque temos que seguir as suas ilusões, fantasias, sonhos?- contestava Mariah insistindo com aquela discussão mantendo a devida atenção na sua filha.
- Para travar esta realidade, guerra, pesadelo!- contrapôs Har-Meand.
No quarto ao lado estava Asrae, que ouvia a discussão sem ter como o evitar. Nem se atreveria a participar, pois o Povo do Cristal era conhecido por serem meros observadores e não intervenientes dos problemas alheios.
A tensão do Cisne Negro avistava a aproximação de um veleiro numa altura em que o seu pai criticava o seu próprio reino sem sentir pudor algum.
- Vivemos tempos conturbados, os dois reinos conspiram na escuridão…- tomou uma pausa reflectiva. - … a guerra pode eclodir a qualquer momento…!
Har-Meand não confiava na serenidade de Suas Majestades desde o nascimento da sua filha. O seu cepticismo aumentara aquando das suas visitas, principalmente naquele momento em teve que desenhar sobre a tela um retrato do Rei e da Rainha segurando a sua filha.
- Barvaatus pode ser tão maquiavélico como aquele que se senta no trono dos Margrietus. Quanto à Rainha Rinna não lhe perscruto nada, permanece na sua sombra.
Tais pensamentos revelados demonstravam o quanto Har-Meand não era adepto da função da realeza mas sim da religião.
Chocada, pelo seu marido ter cuspido todos aqueles disparates contra a corte, Mariah não se desviara do que estava em causa.
- Como Mar-Hir está tão seguro do futuro da nossa filha? Que premonição terá visto para crer que ela é a divina representação da paz… afinal de contas não sabemos nada!
Entretanto houve um vulto que apareceu junto à porta semi-aberta. Mariah apanhara um susto de coração. O Cisne Negro virava-se sabendo de antemão de quem se tratava. Não era a Sacerdotisa Asrae como os seus pais supunham.
- O futuro é imperceptível… mesmo para mim… - falou calmamente uma voz envelhecida pelo tempo.
Por detrás da porta aparecia um senhor alto de roupagens imaculadas e longo cabelo grisalho.
- Pontífice Mar-Hir…- Mariah engolira em seco
- Perdoai-me o aparecimento repentino mas… chegou o dia…
E instantaneamente Mariah sentiu uma pontada lancinante no peito como se tivessem a comer o seu coração à dentada.
(Próximo Capítulo: "A Dor da Despedida Prematura")

24 comentários:

Joker disse...

Enfim o desfecho !!!!

Beijinhos encantados!

o alquimista disse...

...Só tu meu caro amigo para me prender assim a uma história...li e reli...

Abraço

Carla disse...

Passei para te ler e aproveito para deixar votos de um bom domingo.
Bjx

Abssinto disse...

hmm curiosa saga, luigi. Obrigado por apareceres lá no meu beco escuro. voltarei.

abraço

Luna disse...

Se aceitassemos a morte como uma continuação da vida, e a vida como uma aprendisajem não sofreriamos tamto com as perdar, e tanto com os nossos quereres egoicos.

espero que já estejas mesmo bom
beijinhos

A Professorinha disse...

Olá. Claro que podes assistis às aulas sempre que quiseres!

E eu voltarei para ler tudo o que escreveres.

:-)

sonho disse...

Bela história a que partilhaste conosco. Rendida á tua escrita perdi-me na tua bela história que li e reli com muito gosto. Voltarei para ler "A Dor da Despedida Prematura".

Beijoquitas Di

Titania disse...

Regressada de férias, voltei aqui e vejo o teu blog em boas condições... Deve ter sido só um problema temporário :)

A história é interessante, eheheheh. Ficamos à espera do resto...

Um beijo

Sara Martins disse...

My dearest...
Como te sentes???

Forças superiores têm-me impedido de por aqui vaguear, mas não penses que me esqueci...
Recuperaste já??
Espero tanto que sim...

O teu Cisne é uma criatura admirável, mas sofre com o peso do seu destino...
Desejo-lhe o final feliz que desejaria para mim...

Os meus Anjos, que velam por ti, dizem-me que te sentes melhor...
Espero que tenham acertado!!

Beijinho grande, do coração...

Your ''devoted Angel''...

Pierrot disse...

Muito bom...
Estou estupefacto
Cá esperarei pelo epilogo.
Abraço
Eugénio Rodrigues

delusions disse...

estou a adorar continua!
A frase em latim significa "E assim a sorte (ou o destino) quis"
Fizeste-me lembrar a Marion Zimmer Bradley, que também escreveu um livro sobre Atlantida...

beijo*

Luigi disse...

Marion Zimmer Bradley é a minha autora preferida. Tenho o livro que falas, foi o livro que li mais vezes embora não seja dos mais conhecidos do seu vasto expólio.
Não tenciono comparar-me a ninguém, mas agradeço se te fiz lembrar tal escritora que admiro bastante.

Filos disse...

E quantas vezes sofremos por antecipação... prevendo um mal, que pode apenas ser um caminho diferente?


PS: As memórias são espaços aos quias volto,não para ficar,mas para depois seguir para o futuro...
sempre com muita música a acompanhar...

Mais uma vez obrigada pelas palavras...

☆Fanny☆ disse...

Obrigada Luigi por visitares os meus murmúrios.

Fiquei muito feliz por conhecer este teu espaço literário e deixar-me levar pelas narrativas profundamente belas que escreves!

Voltarei sempre para te ler e te sentir.

Um abraço de estrelinhas*

Fanny

Sereia Azul* disse...

Luigi...como é bom embrenhar-me nas tuas narrativas! Tens talento!

Sabes? A Sereia Azul*... o que escreve... são efectivamente monólogos...ela conversa no silêncio da sua alma e percebe a melodia dos seus sonhos. Ela gosta de deambular pelas veredas dos seus pensamentos...gosta de conversar com ela própria!

Uma brisa de mar no teu coração

Sereia Azul*

Anónimo disse...

Estou a gostar de ler,
Continua Continua...

Abrao

Anónimo disse...

Deixo um beijo ao sabor do vento

karla disse...

k história fantástica... adorei...

beijinhos

MacLord disse...

Sem dúvida que estou a Gostar!

Em Cada Partida
Em Cada Adeus que os olhoss pronunciam
Uma Só Certeza: o Reencontro.

BB
)O(

Rosmaninho disse...

Luigi

Que imaginação contém tudo o que escreves!

Leio, releio e espero o próximo capítulo...

~*Um beijo*~

estrela disse...

"...Amigo que é amigo
Não precisa de palavras
Seus gestos dizem tudo...
Amigo não faz cobranças
Ele faz porque é amigo
Amigo é aquele desinteressado
Que te manda um beijo
Sem querer um em troca
Que te dá um oi
Que te escreve um email
Que quer saber de você
Que te liga no meio da noite
Porque teve um sonho estranho
Amigo é amigo
Ele é assim, porque ser amigo é assim
Passar aqui e te deixar
Um enorme beijooo
Porque sentiu essa vontade
Essa saudades de você
Simplesmente porque te adora
E porque amigo é assim
Ele faz e fim!!!..."
Bjokas...

Sara Martins disse...

Olá, my beautiful one...

O Gaspar deu conta do recado... LOL

Sabes, aqui o Anjinho tem uns problemas para resolver, nomeadamente o relatório de estágio para entregar... E, para ser sincera, já tou a dar em doida...
A vida não tem ajudado nada ultimamente!!!
Mas tudo se há-de resolver...

Qualquer dia peço-te para me contares uma das tuas histórias, e a melancolia passa-me logo! Tem é de ser uma com final feliz, porque essa parte falta-me sempre...

Obrigado, por seres tanto...
Fazes-me muito bem!

Beijinho grande...

Your devoted (sad little) Angel...

Anónimo disse...

fantastico, presa da primeira linha ate a ultima*
continua

beijinho

inBluesY disse...

(devagarinho, mas repondo leituras atrasadas, nem sempre é fácil. deixo o silêncio em comentário, gostava de saber de quem é esta musica?)